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Estimar quanto o PIB vai subir ou cair tem se tornado um exercício cada vez mais complexo. Segundo o IBGE, a economia brasileira cresceu 0,9% no segundo trimestre, revisando para 1,8% a expansão do primeiro trimestre (antes era 1,9%). O resultado pegou quase todo mundo de surpresa, pois a média de mercado estava na casa dos 0,4%. 

Mas o que levou a esse crescimento, com o qual o nível da atividade ficou 7,4% acima do patamar pré-pandemia do quarto trimestre de 2019, atingindo o ponto mais alto da série histórica iniciada em 1995?

Dois setores: a indústria, que avançou 0,9%, ainda que esteja na série histórica com resultados ainda ruins, e serviços, que responde por quase 70% do PIB, que avançou 0,6%. A agropecuária que havia bombado no primeiro trimestre, quando havia se expandido 21%, puxando o PIB para cima, recuou 0,9%. Mesmo assim, teve um desempenho melhor que o esperado. Por sinal, a agropecuária tem aumentado sua participação no PIB ao longo dos anos: hoje, responde por algo ao redor de 8%, depois de representar entre 5 a 6%.

O que tem puxado o PIB, além dos serviços, é o consumo das famílias que cresce há três anos. No segundo trimestre avançou 0,9%, bem acima do que se previa. A melhora do mercado de trabalho, embora ainda com muita fragilidade como tem mostrado o Observatório da Produtividade Regis Bonelli, tem dado maior vigor ao consumo, aliado aos reajustes nos programas de transferência de renda, notadamente no Bolsa Família. Mas há ainda obstáculos, como o grande endividamento das famílias, apesar dos recém-lançados programas de renegociação de dívidas, e os juros, que embora comecem a ceder, ainda estão em patamares bastante elevados. Ou seja: há dúvidas se o consumo das famílias vai se manter em patamares elevados.

O consumo do governo também surpreendeu os analistas, com avanço de 0,7%. Na outra ponta, no entanto, os investimentos continuam muito ruins: só tiveram avanço de 0,1% no segundo trimestre, recuando 2,6% em relação ao segundo trimestre de 2022. Com isso, a taxa de investimento fechou o segundo trimestre em 17,2% (foi de 18,2% no mesmo período do ano passado), muito abaixo ainda das necessidades para que a economia retome um crescimento mais sustentável.

Aguardemos os próximos capítulos.

Claudio Conceição | claudio.conceicao@fgv.br

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