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O terceiro mandato do presidente Lula vem sendo marcado por uma política de “pé no acelerador” de gastos, o que tem levado a economia a plena carga, acima de seu potencial de crescimento, com os salários subindo acima da produtividade, como mostram os dados do Observatório da Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE (https://ibre.fgv.br/observatorio-produtividade). Os juros estão aumentando, na contramão do que acontece no mundo, na tentativa de controlar a inflação, que, no ano passado, ultrapassou o teto da meta. Como já mencionei em outras vezes, a política monetária não está conseguindo reduzir as incertezas, já que a preocupação com o equilíbrio fiscal ainda é vista com grande desconfiança, como os próprios números têm demonstrado. E sem uma política fiscal responsável, não há política monetária que consiga segurar a inflação, o risco Brasil, o dólar. Uma das principais preocupações é com a inflação de serviços, que, este ano, pode rodar na casa dos 7% a 8%. O que é muito. Algumas projeções já apontam que a inflação deste ano será superior a 6%.

Como aponta Samuel Pessôa em sua coluna Ponto de Vista desta edição, “há duas dúvidas para 2026. Primeira, como Lula se comportará quando ficar clara a falta de sincronia entre o ciclo monetário e o ciclo eleitoral. A segunda dúvida é em que medida o Banco Central liderado por Gabriel Galípolo será independente. (...) Há muita névoa para enxergarmos 2026. Teremos que esperar antes que 2025 transcorra. Para este ano, temos mais visibilidade. Será um ano de atividade em desaceleração e inflação em alta. Um cenário de estagflação”.

Na Carta do IBRE deste mês, o pesquisador associado do FGV IBRE, Bráulio Borges, faz uma avaliação da eleição de Trump sobre a economia global, acrescentando que “o impacto de uma eventual guerra comercial mais ampla e intensa no segundo mandato de Trump vai ser muito mais desfavorável do ponto de vista inflacionário, comparativamente ao primeiro mandato do presidente reeleito dos Estados Unidos. (...) A valorização contínua e expressiva do dólar estadunidense ante as outras moedas há cerca de três meses, da ordem de 7%, reflete alguma antecipação do cenário de aumento das tarifas nas importações dos Estados Unidos, na visão do economista”.  

Isso, segundo Borges, “é uma notícia ruim para os países emergentes. Ele chama a atenção para estudo do FMI divulgado em meados de 2023, mostrando que o impacto da valorização do dólar é estatisticamente irrelevante nos países avançados, mas, no caso das economias emergentes, é negativo e bastante persistente. Em média, valorizações de cerca de 10% do dólar frente às moedas fortes tendem a reduzir o crescimento do PIB dos emergentes em quase 2 pontos percentuais (pp) um ano após a apreciação – e esses efeitos persistem por cerca de dois anos e meio”. 

Muita gente acha que é pessimismo em excesso. Afinal, a economia está crescendo a taxas de 3% ao ano. A taxa de desemprego é a menor da série histórica desde que o IBGE começou a calculá-la. Os salários sobem. 

Ao que tudo indica, este ano será o do teste do pudim, como se costuma falar. Acho que será um ano difícil, especialmente na tentativa do controle dos gastos públicos. É bom lembrar que em 2026 teremos eleições e as torneiras vão ficar, se não totalmente, parcialmente abertas para fortalecer alianças, buscar novas coligações. O cenário político é nebuloso, já que não se sabe se Lula terá condições de se candidatar para um novo mandato. Se Bolsonaro continuará inelegível. Como a direita, que começa a ter um rosário de candidatos, vai se cacifar para ter um candidato com força para tentar ganhar a eleição presidencial. Se vai aparecer alguém de centro-direita capaz de se tornar um potencial candidato. 

O que sempre se pergunta, e nunca há uma resposta satisfatória, é quando o Brasil conseguirá ter um crescimento sustentável? O que parece ainda estar longe de acontecer, dadas as deficiências estruturais de nossa economia. Para crescer, temos de ter aumento de produtividade, investimentos, fiscal controlado, confiança dos investidores.

José Pastore, um dos principais especialistas em mercado de trabalho do país, em entrevista à Conjuntura Econômica (também fez uma apresentação aos pesquisadores da Economia Aplicada do FGV IBRE em dezembro último), aponta três graves problemas pela frente em um dos segmentos mais sensíveis da economia: o mercado de trabalho. 

“O primeiro é a anemia dos investimentos. Para gerar empregos em grande quantidade e de boa qualidade, o Brasil teria de investir cerca de 25% do PIB anos a fio. O segundo é a baixa qualidade da educação e limitada capacidade de qualificação e requalificação para acompanhar a modernização tecnológica de todos os setores da economia. O terceiro, por sua vez, é de ordem institucional. Temos um quadro muito perverso para a geração de empregos formais. O Brasil tributa demais o fator trabalho – com encargos sociais que ultrapassam 100%. Além disso, temos uma legislação trabalhista e um sistema de resolução de conflitos muito complexos, que geram uma enorme insegurança aos agentes econômicos. Afinal, boas instituições contam muito para a geração de empregos de boa qualidade e para o próprio crescimento econômico.”

Claudio Conceição – claudio.conceicao@fgv.br

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