
Na comparação das previsões de crescimento do PIB para este ano feitas em janeiro com as de outubro do ano passado, houve melhora somente na Colômbia, Bolívia e Uruguai. O Brasil se destaca entre os países com as piores projeções de crescimento do PIB. A piora nas condições macroeconômicas internas e no ambiente político foram alguns dos principais fatores citados para as previsões mais fracas neste trimestre.
O Indicador do Clima Econômico da América Latina (ICE) recuou 1,6 ponto entre o 4º trimestre de 2021 e o 1º trimestre de 2022, mantendo a tendência negativa observada no trimestre anterior. Antes disso, o indicador havia registrado cinco altas consecutivas após atingir o menor valor da série histórica (41,7 pontos) no 2º trimestre de 2020.
A queda do ICE foi influenciada pela piora das avaliações sobre a situação atual. O Índice da Situação Atual (ISA) caiu 5,7 pontos no trimestre, ao passar de 58,0 pontos para 52,3 pontos entre as duas últimas Sondagens. O ISA está na zona desfavorável desde o 2º trimestre de 2012, uma situação condizente com o lento crescimento da região após o ciclo de alta dos preços das commodities. Já o Índice de Expectativas manteve-se na zona favorável ao subir 3,5 pontos no mesmo período, para 108,6 pontos.
Clima econômico: Resultados dos países
A Tabela 1 do Press Release resume os resultados do Clima Econômico para as maiores economias da região acompanhadas pelo FGV IBRE.
Na Tabela 1 do Press Release, os países estão ordenados da maior para a menor variação, em número de pontos, do Clima Econômico entre o 4º trimestre de 2021 e o 1º trimestre de 2022. O ICE subiu em apenas dois países neste período, a Argentina e Uruguai. A alta do ICE argentino foi motivada por avanços tanto do ISA quanto do IE deste país. No Uruguai, houve piora nas expectativas e melhora na avaliação atual. Apesar do avanço no trimestre, o ICE da Argentina continua na zona desfavorável.
A Colômbia registrou o maior recuo, de 28,2 pontos, mas o ICE continua favorável neste país. Além da Colômbia e o Uruguai, o ICE continua acima dos 100 pontos no Paraguai. O ICE do Brasil recuou 2,8 pontos e agora é o menor da região: 60,6 pontos.
O ISA do Brasil recuou 39,1 pontos entre as duas últimas Sondagens fechando em apenas 15,4 pontos no 1º trimestre de 2022, um patamar relativamente próximo ao do 4º trimestre de 2020 (13,3 pontos). No sentido contrário, foram observadas altas do ISA no México, Chile e Colômbia, além da Argentina e Uruguai, mencionados acima. Ressalta-se o Chile, com um aumento de 30,8 pontos. Na zona favorável do ISA estão o Uruguai, Chile, Paraguai e Colômbia.
As expectativas pioraram em todos os países, exceto Argentina e Brasil. Nos dois casos houve ganhos de 45,3 pontos e 42,7 pontos, respectivamente. Mesmo com o recuo do IE nos países, apenas Chile e Bolívia registram IE na zona desfavorável.
Três casos do IE chamam atenção. A melhora do IE do Brasil e da Argentina e a deterioração das expectativas no Chile, a partir do 3º trimestre de 2021.
A revisão das projeções de crescimento do PIB dos países da região ajuda a esclarecer alguns desses resultados.
Previsões para o crescimento do PIB em 2022
O Gráfico 6 do Press Release mostra as previsões dos especialistas para o crescimento do PIB em 2022 feitas no 4º trimestre de 2021 e no 1º trimestre de 2022. Nesta consulta enquete, o crescimento para 2022 foi revisto para cima na Colômbia, Bolívia e Uruguai. A diferença nas revisões para baixo foram menores do que 0,2 ponto percentual para o Paraguai, Equador, Argentina e Chile. No Peru, o crescimento esperado diminuiu de 3,5% para 2,7% e no Brasil, de 1,8% para 0,7%. O Brasil lidera a lista dos países com menor crescimento projetado para 2022.
Para identificar os fatores que levaram os especialistas a mudarem suas projeções foram incluídos quesitos na Sondagem. No questionamento adicional, o respondente foi chamado a avaliar qual(is) fator(es) mais influenciou(aram) a sua revisão para o crescimento do PIB do país em 2022. O especialista podia escolher quantos fatores desejasse. Em todos os países, mais de 50% dos especialistas informaram que revisaram suas projeções para os seus países. Na maioria dos casos a revisão foi para baixo (Tabela 2 do Press Release).
Entre os que responderam que revisaram para cima o crescimento econômico (Tabela 3 do Press Release), os fatores com maior incidência de respostas (percentuais mais elevados) foram a diminuição dos casos de COVID e a melhora nas condições macroeconômicas internas. No Brasil, 10% dos especialistas revisaram para cima o crescimento do PIB e estes dois fatores mencionados foram destacados pelos especialistas. A Bolívia foi o país que registrou o maior ganho na revisão de projeção do PIB, que passou de 3,3% para 3,8%. Neste país, os especialistas destacaram a melhora das condições macroeconômicas internacionais e novas medida de estímulos para esse resultado.
Como visto acima, houve aumento do ICE na Argentina e no Uruguai nesta edição da Sondagem. Na revisão do PIB, o do Uruguai passou de 2,9% para 3,0% e o da Argentina recuou de 2,6% para 2,5%. As diferenças são pequenas e vamos analisar os fatores de melhora do PIB. No caso do Uruguai, a melhora das condições macroeconômicas internas e a diminuição das restrições à mobilidade foram os fatores citados com maior frequência. Na Argentina, o tema da mobilidade (88,9%), seguido da queda do número de casos de COVID (44,4%) e medidas de estímulo (44,4%).
A Tabela 4 do Press Release mostra, em cada país, os fatores que os especialistas apontaram para justificar a revisão para baixo do crescimento do PIB. Em média, as respostas com maior número de incidências de respondentes foram: piora nas condições macroeconômicas internas; surgimento da variante Ômicron; e, piora no ambiente político.
Destaca-se novamente o caso da Argentina. Apesar de o ICE ter subido, 100% dos especialistas revisaram para baixo o PIB devido à piora nas condições macroeconômicas internas e piora no ambiente político interno. Entre outros fatores que explicariam a piora, também foi citada a demora para o fechamento do acordo com o FMI (50%), algo que terminaria ocorrendo após o término do período de coleta de dados para esta edição da Sondagem. É possível que se o Presidente Fernandez conseguisse aprovar o pacote do FMI, as expectativas na Argentina melhorassem, pois isso também sinalizaria apoio ao seu governo.
No Paraguai, o fator com maior incidência de respostas no grupo de especialistas que revisaram o PIB para baixo foi a seca no país e seus efeitos na colheita agrícola.
Em suma, melhora das condições macroeconômicas internas e diminuição dos casos de COVID são fatores positivos para o crescimento econômico. Em alguns países, a diminuição das restrições à mobilidade foi destacada, como no Paraguai, Argentina, Colômbia, Equador e Uruguai. No Brasil, nenhum especialista selecionou esse fator.
Percentuais acima ou iguais a 50% para a piora nas condições macro foram registradas no México, Argentina. Equador e Brasil. Percentuais acima ou iguais a 50% para piora no ambiente político foram registrados no Peru, Argentina, Equador, Brasil e Chile.
Na Argentina e no Brasil a piora macroeconômica vem junto da piora na política. No entanto, esses dois países foram os únicos a registrarem melhora no índice de Expectativas, com variações acima de 40 pontos.