No quarto trimestre de 2024, o Indicador de Clima Econômico (ICE) da América Latina manteve sua trajetória de queda, registrando redução de 6,2 pontos em relação ao trimestre anterior, ao passar de 84,1 para 77,9 pontos. No acumulado de 2024, o ICE apresentou recuo de 20,3 pontos, correspondendo a uma retração de 20,7%.
A performance negativa no quarto trimestre de 2024 é atribuída, novamente, às duas principais economias da região: Brasil e México. Diferentemente do terceiro trimestre, quando o ICE do Brasil e do México recuaram 14,7 e 17,2 pontos, respectivamente, o quarto trimestre destacou-se pela acentuada queda do México, de 27,4 pontos, enquanto o Brasil registrou declínio mais moderado, de 4,8 pontos. Em contrapartida, o ICE da Argentina manteve sua trajetória ascendente, com um avanço de 44,7 pontos, representando a maior variação positiva desde o terceiro trimestre de 2020, quando o indicador registrou crescimento de 46,2 pontos.
Considerando que a atual Sondagem foi conduzida após as eleições presidenciais dos Estados Unidos, vencidas por Donald Trump, um ponto de destaque merece atenção: na edição do terceiro trimestre, especialistas foram questionados sobre o impacto esperado nas economias de seus países, caso fosse eleito o candidato Republicano ou Democrata. No caso do Republicano, 100% dos especialistas argentinos indicaram que o impacto seria positivo, enquanto no México foi observado o extremo oposto, com 100% dos especialistas avaliando como totalmente negativo. No Brasil, 77,8% dos especialistas afirmaram que a eleição do Republicano não traria benefícios econômicos. Esses resultados podem, portanto, estar refletidos nas recentes avaliações do ICE na Argentina e, especialmente, no México.
Previsões de Crescimento do PIB
O Brasil registrou a maior variação positiva nas projeções de crescimento do PIB para 2024, com aumento de 1 ponto percentual (p.p.), passando de uma previsão de crescimento de 2,2% no terceiro trimestre para 3,2% no quarto trimestre. A Argentina, embora ainda em terreno negativo, apresentou a segunda maior alta, com incremento de 0,6 p.p., de -3,6% para -3,0% no mesmo período. Além disso, Paraguai, Uruguai e Peru também tiveram revisões positivas em suas projeções, embora com aumentos inferiores a 0,5 p.p.
O maior recuo foi para o PIB do Equador que passou de um crescimento de 1% para -0,2% no quarto trimestre, uma queda acentuada de 1,2 p.p.. Esse recuo pode ser atribuído, principalmente, à crise energética que provocou apagões diários e impactou significativamente a economia e a vida da população.
A situação foi agravada por uma severa seca, que reduziu drasticamente a capacidade das hidrelétricas. Chile e México também revisaram suas projeções para baixo, mas as reduções foram inferiores a 0,5 p.p., enquanto Colômbia e Bolívia mantiveram suas estimativas inalteradas.
O avanço nas projeções do PIB brasileiro foi fundamental para a elevação da previsão de crescimento do PIB regional, que aumentou de 1,5% para 1,8%.
SEÇÃO 2 – Indicador de Clima Econômico da América Latina
O Indicador de Clima Econômico (ICE) da América Latina tem registrado quedas consecutivas desde o 1º trimestre de 2024. No quarto trimestre, recuou 6,2 pontos em relação ao trimestre anterior, passando de 84,1 pontos para 77,9 pontos.
A piora do Indicador de Clima Econômico foi liderada pela queda no Indicador de Expectativas (IE) que recuou -22,4 pontos em relação ao trimestre anterior, atingindo 71,8 pontos. O Indicador da Situação Atual (ISA) registrou melhora passando de 74,3 pontos para 84,1 pontos. Esse resultado é o inverso do que ocorreu no 3º trimestre, onde a piora do ICE foi liderada pela piora na avaliação da situação atual e relativa estabilidade das expectativas.
Seção 3: Indicador de Clima Econômico da América Latina por país
A melhora no Indicador de Clima Econômico (ICE) foi observada em quatro dos dez países pesquisados, com destaque para a Argentina, que registrou o avanço mais significativo, de 44,7 pontos. Em seguida, destacam-se o Peru e o Paraguai, que apresentaram altas de 12,7 e 8,9 pontos, respectivamente. A Bolívia teve variação mínima, com aumento de apenas 0,3 ponto, mas mantém o menor nível da região, com apenas 3,8 pontos. Entre os seis países que registraram queda no ICE, o México apresentou o recuo mais acentuado, de -27,4 pontos, enquanto o Brasil teve uma queda de 4,8 pontos. Apenas três países permanecem na zona moderada-otimista, com indicadores acima de 100,0 pontos: Paraguai, Argentina e Peru (vide Gráfico 2).
O Indicador da Situação Atual (ISA) registrou alta em quatro países, com destaque para o Peru, que avançou 70 pontos, seguido por Argentina (61,9 pontos), Brasil (25,0 pontos) e Paraguai (13,6 pontos). A Bolívia manteve-se estável no período. Entre os países que apresentaram queda, o México registrou a maior redução, de 28 pontos.
Apesar das variações, Paraguai, Brasil, Peru e Uruguai continuam situados na zona moderada-otimista do indicador (vide Gráfico 3).
O Indicador de Expectativas (IE) registrou avanços em três países, com destaque para a Argentina, que apresentou a maior alta, de 17,9 pontos, seguida por incrementos mais modestos no Paraguai (4,4 pontos) e na Bolívia (0,6 ponto). Por outro lado, as quedas no IE variaram de forma significativa, com o Peru liderando os recuos ao registrar uma redução de 57,8 pontos, enquanto o Chile apresentou uma queda de 22,2 pontos. O Brasil também teve uma retração expressiva, de 30,0 pontos, possivelmente refletindo expectativas de Política Fiscal.
Destaca-se a significativa piora das condições econômicas no México, com o Indicador de Clima Econômico (ICE) registrando uma queda de 76,0 pontos entre o primeiro e o quarto trimestre de 2024. Esse recuo reflete uma redução de 74,8 pontos no Indicador de Situação Atual (ISA) e de 76,9 pontos no Indicador de Expectativas (IE) no mesmo período, indicando um cenário de forte retração tanto na avaliação atual quanto nas perspectivas futuras.
No caso do Brasil, a comparação revela uma trajetória mista: enquanto o ISA apresentou um avanço de 25,0 pontos, o IE registrou um recuo expressivo de 80,0 pontos, resultando em uma redução de 29,6 pontos no ICE. Esse comportamento sugere uma percepção positiva das condições econômicas atuais, mas um pessimismo crescente em relação às expectativas para o futuro.
Para o conjunto dos países analisados, as expectativas indicam piora no clima econômico para os próximos seis meses e essa perspectiva encontra eco na Sondagem do terceiro trimestre, que apresentou uma enquete especial sobre as eleições nos Estados Unidos. Na ocasião, a maioria dos especialistas avaliou que a eleição do candidato republicano teria impacto negativo para a economia de seus respectivos países. No entanto, esse fator não é o único a justificar a piora das expectativas em diversos países.
No Brasil, a questão fiscal tem ganhado destaque nos debates sobre os rumos econômicos. No México, questões domésticas têm exercido influência significativa, enquanto, na Argentina, a melhora nos indicadores de inflação se destaca como um fator positivo, embora ainda insuficiente para compensar as incertezas que afetam a região como um todo.
Seção 4: Os Principais Problemas
O Quadro 2 apresenta os principais entraves ao crescimento econômico dos países, de acordo com a percepção dos especialistas de cada região. Sinalizações superiores a 50,0% indicam que as questões são consideradas relevantes, sendo que valores mais elevados apontam para problemas mais significativos. Por outro lado, sinalizações abaixo de 50% sugerem que os gargalos têm menor relevância no cenário econômico. O quadro está organizado de acordo com a gravidade dos problemas que atualmente afetam a América Latina, destacando as principais barreiras ao desenvolvimento econômico regional no momento.
Na região, dos 15 problemas listados, 10 apresentam pontuação acima de 50%, refletindo sua relevância como entraves ao crescimento econômico regional, sendo os mais destacados: infraestrutura inadequada; falta de inovação; falta de confiança na política econômica; falta de credibilidade da política do Banco Central; falta de competividade internacional; falta de mão de obra qualificada; corrupção e barreiras legais e administrativas para os investidores. Esses fatores evidenciam desafios estruturais e institucionais significativos, que comprometem a atratividade da região para investimentos e dificultam o desenvolvimento econômico sustentável.
Um dos destaques da edição do quarto trimestre foi o aumento expressivo na sinalização do gargalo falta de credibilidade da política do Banco Central, apontado por 78,0% dos especialistas, comparado a apenas 6,0% no segundo trimestre (vide Quadro 3). Esse crescimento abrupto foi identificado em diversos países, com destaque para a Colômbia, que saltou de 0% para 100%; o Brasil, de 0% para 92%; e o México, de 0% para 85%.
O Quadro 3 apresenta uma comparação entre os principais entraves econômicos na região nos períodos do segundo e do quarto trimestre de 2024. Observou-se que a instabilidade política e o clima desfavorável para investidores estrangeiros perderam relevância na edição mais recente. No caso do Brasil, por exemplo, esses dois entraves registraram quedas significativas, passando de 73% e 64%, respectivamente, no segundo trimestre, para 33% e 25% no quarto trimestre.
O Quadro 4 destaca os três principais problemas identificados pelos especialistas como entraves ao crescimento econômico em seus respectivos países. As questões prioritárias variaram entre as maiores economias da região, como no caso da Argentina, em que 83% dos especialistas apontaram a falta de competitividade internacional como o principal desafio. No Brasil, 83% apontaram a falta de confiança na política econômica; e no México, 58% identificaram a falta de confiança na política do governo como o maior obstáculo, seguido pela corrupção, apontada por 42%. No Uruguai, todos os especialistas sinalizaram que a falta de competitividade internacional é problema mais sério que o país atravessa.
Vale ressaltar que, em 6 dos 10 países analisados, a falta de confiança na política econômica foi destacada como o principal problema enfrentado para impulsionar o crescimento econômico, evidenciando um padrão regional de desafios relacionados à governança e credibilidade das políticas públicas.