Clima Econômico da América Latina seguiu piorando no início de 2025

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Indicador de Clima Econômico da América Latina 

O ICE da América Latina manteve, no primeiro trimestre de 2025, a trajetória de deterioração observada nos trimestres anteriores, ao atingir 70.2 pontos – uma queda de 7.7 pontos em relação ao final de 2024. No acumulado de 12 meses, o recuo foi de 28 pontos, evidenciando o agravamento do ambiente econômico regional. 

ICE da região apresenta tendência de queda desde o início de 2024. Entre o 4º trimestre de 2024 e o 1º trimestre de 2025, essa deterioração foi impulsionada por uma nova queda no Indicador de Situação Atual (ISA), que atingiu 62.8 pontos – o menor nível desde o 2º trimestre de 2023.

O Indicador de Expectativas (IE), por sua vez, registrou leve alta para 77.8 pontos. Apesar da elevação, o IE permanece em patamar historicamente deprimido.  

Tanto o ISA quanto o IE vêm encontrando dificuldade para atingir ou sustentar o nível de neutralidade (100 pontos). O contexto atual e projetado da economia latino-americana permanece desafiador ao longo dos últimos trimestres. 

Indicador de Clima Econômico da América Latina por país 

A construção do ICE leva em conta diversos países latino-americanos, refletindo realidades econômicas bastante distintas. Essa heterogeneidade se expressa tanto no nível do indicador quanto em suas variações trimestrais, oferecendo um retrato multifacetado da região.  

Em seis dos dez países avaliados, houve queda no ICE entre o 4º trimestre de 2024 e o 1º trimestre de 2025. Ressalta-se que todos os países que estavam em terreno positivo ao fim de 2024 (acima de 100 pontos) registraram queda, incluindo Paraguai, Argentina e Peru. 

Destaca-se o impacto da queda do ICE brasileiro sobre o indicador agregado, bem como a melhora perceptível em economias andinas, como Colômbia e Equador. 

O ISA recuou em cinco das economias analisadas, com destaques negativos para Brasil (-40.4 pontos), México (-21.3) e Paraguai (-25.1). Apesar de avanços expressivos na Colômbia (+30.0) e no Chile (+16.7), o peso relativo de Brasil e México contribuiu decisivamente para a queda do ISA regional, que atingiu 62.8 pontos no 1º trimestre de 2025 – 21.3 pontos a menos que no trimestre anterior.  

Esses recuos refletem reavaliações pessimistas sobre os cenários nacionais. No México, a deterioração decorre das dificuldades nas relações comerciais com os Estados Unidos. No Brasil, a confluência de incertezas fiscais e monetárias foi determinante. Em ambos os casos, as projeções de crescimento foram revistas significativamente para baixo, e o Brasil passou de terreno positivo para negativo no ISA. 

No IE, também houve queda em cinco países, com destaque para Chile (-23.6 pontos) e Argentina (-17.9). Em contrapartida, observaram-se fortes avanços no Equador (+37.3) e no México (+35.2), o que permitiu uma leve alta de 6.0 pontos no IE regional, que chegou a 77.8 pontos no início de 2025. 

Cabe reiterar que os dados foram coletados ao longo do 1º trimestre de 2025, antes do agravamento da guerra comercial liderada pelos EUA. É provável que os indicadores passem por revisões importantes na próxima edição, especialmente nas economias mais expostas ao comércio internacional, como México, Colômbia e Chile. Tais questões serão analisadas com maior profundidade no 2º trimestre. 

As mudanças nas projeções de crescimento do PIB de 2025  

As estimativas apontam para desaceleração do crescimento da região em 2025, refletindo principalmente as fortes revisões negativas nas projeções do México e do Brasil, as duas maiores economias latino-americanas.

No agregado regional, 72,3% dos respondentes revisaram suas projeções, sendo que 73,1% destas foram para baixo. Destacam-se os casos de México, Bolívia e Uruguai, nos quais todas as alterações foram de viés negativo. Brasil e Colômbia também registraram alta proporção de revisões para baixo.

Embora a Argentina tenha apresentado maioria de revisões positivas, isso não foi suficiente para reverter a percepção geral de desaceleração. 

Entre os que elevaram suas projeções, 38% atribuíram esse otimismo à expectativa de novos estímulos econômicos, com destaque para o Brasil, onde esse foi o único fator positivo identificado.

A melhora nas condições macroeconômicas internas e externas também foi mencionada, embora com menor frequência. Mais reveladora é a análise das motivações por trás das revisões negativas.

O agravamento das condições macroeconômicas, tanto internas quanto externas, foi o principal fator apontado. No caso do Chile, 100% das revisões negativas foram atribuídas ao cenário internacional. 


Esse padrão de respostas ganha relevância diante do agravamento do ambiente externo no início do 2º trimestre de 2025, o que pode antecipar novas revisões negativas no próximo ciclo da Sondagem. O acompanhamento dos desdobramentos da guerra comercial será essencial para compreender os impactos sobre as economias da região. 

Uma avaliação inicial dos impactos da “Agenda Trump” 

Esta edição da Sondagem foi realizada em um contexto particularmente sensível, marcado pela posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos e por mudanças profundas na condução da política externa americana, com impactos nas esferas comercial, militar, tarifária e geopolítica.  

Tais mudanças têm implicações diretas para a América Latina, tradicionalmente inserida na esfera de influência dos EUA. No entanto, a região não constitui um bloco homogêneo, como demonstrado ao longo desta Sondagem: cada país apresenta características próprias, o que resulta em percepções distintas sobre os impactos da nova agenda americana.  

Espera-se, portanto, ampla variação nas avaliações, com alguns países identificando oportunidades e outros antecipando riscos. Essa heterogeneidade se reflete nas respostas à enquete sobre os efeitos da “Agenda Trump”: 84,3% dos participantes preveem impactos negativos (moderados ou fortemente negativo), enquanto apenas 14,4% esperam efeitos moderados e positivos. Apenas 1,4% não considera relevante a mudança de governo nos EUA. 

A divergência de percepções é significativa. No México, unanimemente, os respondentes preveem impactos negativos, sendo 83,3% considerados fortemente negativos. Por outro lado, Equador, Brasil e Paraguai registraram proporções relevantes de respostas positivas (acima de 30%), possivelmente associadas à expectativa de acesso a novos mercados, como ocorreu durante a primeira guerra comercial (2017–2020), quando exportações agrícolas desses países à China aumentaram significativamente.

É importante frisar que os dados desta seção foram coletados antes da intensificação da guerra comercial no 2º trimestre de 2025, quando os EUA ampliaram tarifas de importação globalmente e adotaram postura mais agressiva frente à China. É plausível que, se a enquete fosse realizada mais tarde, os resultados fossem distintos. Essa hipótese será explorada nas próximas edições da Sondagem.