O Monitor do PIB-FGV aponta, na análise da série dessazonalizada, retração de 9,3%, na atividade econômica em abril, na comparação com março. No trimestre móvel findo em abril, a retração da atividade foi de -6,1%, em comparação ao trimestre móvel findo em janeiro. Na comparação interanual a economia retraiu 13,5% em abril e 4,9% no trimestre findo em abril.
“O dado de abril mostra que, a retração recorde da economia, não apenas no PIB, porém disseminada em diversas atividades e componentes da demanda, é a pior da história recente. A indústria e o setor de serviços, que respondem por aproximadamente 95% do valor adicionado total da economia também tiveram os maiores recuos de sua série histórica iniciada em 2000, assim como o consumo das famílias e a formação bruta de capital fixo. Em um país que, após três anos de fraco crescimento, ainda não havia conseguido se recuperar da última recessão, finda em 2016, que causou uma retração de 8,1% no PIB ao longo de 11 trimestres, o resultado de retração de 9,3% do PIB em apenas um mês, registrado em abril não é nada animador e só evidencia os enormes desafios que serão enfrentados pela economia no decorrer de 2020.”, afirma Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB-FGV.
A economia apresentou recorde de retração em abril, tanto na comparação contra o mês imediatamente anterior, quanto na interanual em decorrência das medidas de isolamento social necessárias para o combate a pandemia de COVID-19. Esse padrão de recuo recorde também foi observado na indústria e no setor de serviços. Na análise da série livre de efeitos sazonais a indústria caiu 15,7% influenciada pelos expressivos recuos da transformação (-24,3%) e da construção (-11,7%) enquanto o recuo de 7,3% dos serviços reflete a deterioração, principalmente, das atividades de comércio (-18,3%), transporte (-15,1%) e de outros serviços (-14,0%). Pela ótica da demanda, a formação bruta de capital fixo e o consumo das famílias também apresentaram recorde de retração com recuos de 23,0% e de 7,7%, respectivamente. A desagregação
desses dois componentes mostra que, na margem, houve queda tanto dos componentes da FBCF de máquinas e equipamentos, construção e outros tanto dos componentes do consumo das famílias de bens não duráveis, semiduráveis, duráveis e de serviços.
ANÁLISE DESAGREGADA DOS COMPONENTES DA DEMANDA
A análise gráfica desagregada dos componentes da demanda foi feita na série trimestral interanual por apresentar menor volatilidade do que as taxas mensais e aquelas ajustadas sazonalmente permitindo melhor compreensão da trajetória de seus componentes. No entanto, como as medidas de isolamento social em decorrência da pandemia de COVID-19 iniciaram-se em meados do mês de março, tendo significativos impactos na economia, durante o ano de 2020, após a usual apresentação da composição da taxa trimestral é apresentada, também, a desagregação da taxa mensal interanual destes componentes.
Consumo das famílias
O consumo das famílias caiu 5,0% no trimestre móvel findo em abril, em comparação ao mesmo trimestre no ano anterior. Apenas o consumo de produtos não duráveis cresceu (1,2%) impulsionado, pelos produtos alimentícios e os artigos farmacêuticos. A retração recorde no consumo de semiduráveis (-31,5%) foi influenciada pelo recuo no consumo de vestuários e calçados em geral enquanto a queda no consumo de duráveis (-22,3%) deveu-se, em grande parte, ao consumo de veículos em geral.
Na análise mensal interanual, nota-se que, mesmo o consumo de produtos não duráveis mostrou retração em abril. Apesar dos produtos alimentícios ainda contribuírem positivamente, a queda dos demais segmentos de consumo não duráveis compensaram esse crescimento. A queda de 7,7% do consumo de serviços, embora tenha sido a segunda menor na análise da composição, merece destaque pelo consumo desse segmento ser menos volátil; esta retração, inclusive, é a maior da série histórica do consumo das famílias de serviços, influenciada, principalmente, pela retração dos serviços prestados as famílias de alojamento e alimentação fora do domicílio.
Formação bruta de capital fixo (FBCF)
A FBCF retraiu 8,4% no trimestre móvel findo em abril, em comparação ao mesmo trimestre de 2019. Todos os componentes apresentaram retração, porém o recuo de 18,1% de máquinas e equipamentos se destaca pela contribuição de 7,3 p.p. negativos para a retração do componente. Cabe ressaltar que o segmento de automóveis em geral foi o principal responsável pela expressiva retração de máquinas e equipamentos, sendo responsável por quase metade da contribuição negativa.
Na comparação interanual, máquinas e equipamentos também se destacam como a maior queda da FBCF. A retração de 29,4% do componente em abril é o recorde de retração mensal da FBCF, desde o início da série histórica, em 2000, assim como a retração de 54,2% de máquinas e equipamentos é a maior já registrada no segmento.
Exportação
A exportação de bens e serviços apresentou queda de 0,3% no trimestre móvel findo em abril, em comparação com mesmo trimestre de 2019. O crescimento de 22,1% da exportação dos produtos duráveis foi praticamente anulado pelas retrações das exportações de bens de capital (-33,3) e de serviços (-13,0%). Apesar do desempenho negativo, a série continua apresentando tendência ascendente, após ter retraído 8,0% no trimestre móvel findo em janeiro deste ano.
A queda de 7,9% da exportação em abril, na comparação interanual é reflexo da retração em todos os seus componentes à exceção da exportação de produtos agropecuários que cresceram 37,9% no mês. Mais uma vez, a maior retração dentre os componentes da exportação deveu-se aos bens de capital com recuo de -61,1% no mês.
Importação
A importação retraiu 0,2% no trimestre móvel findo em abril, comparativamente ao mesmo trimestre de 2019. Apesar do crescimento expressivo da importação dos bens de capital (15,0%) e intermediários (10,9%) no trimestre, a retração de 20,6% na importação de serviços compensou a elevação desses componentes. O principal destaque na retração da importação dos serviços deve-se as viagens.
A retração de 12,8% da importação foi influenciada, principalmente, pelo recuo da importação de serviços (-41,4%), bens de capital (-16,2%) e bens de consumo em geral (-14,4%).
MONITOR DO PIB-FGV EM VALORES
Em termos monetários, o PIB em valores correntes foi de aproximadamente 2 trilhões, 358 bilhões, 664 milhões de Reais no acumulado do ano até abril.
TAXA DE INVESTIMENTO
O Gráfico 10 no press release, destaca em duas linhas as médias das taxas de investimento: a de cima mostra a média das taxas de investimento trimestrais desde janeiro de 2000 (18,0%); a de baixo, a média das taxas de investimento trimestrais desde janeiro de 2015 (15,7%). Observa-se que a taxa de investimento em abril de 2020 foi de 12,1%, na série a valores correntes. Esta taxa além de estar abaixo da taxa de investimento mensal média tanto na série iniciada em 2000 quanto na iniciada em 2015, é a menor taxa de investimento mensal desde 2000, início da série histórica.
ANÁLISE ESPECIAL DAS ATIVIDADES DE SAÚDE PÚBLICA E PRIVADA
A chegada da pandemia de COVID-19 no Brasil, com a adoção das recomendações de isolamento social, tem impactos diretos e indiretos na economia, afetando, praticamente, todas as atividades econômicas. Nesta seção especial que estará disponível no Monitor do PIB-FGV durante todo o ano de 2020, busca-se compreender como duas das principais atividades econômicas diretamente afetadas pela COVID-19 (saúde pública e privada) serão impactadas pelo avanço da pandemia no país. Em conjunto essas duas atividades representavam, de acordo com o IBGE, 4,3% do PIB em 2017, sendo a saúde pública responsável por 2,0% e a saúde privada pelos outros 2,3%.
A saúde pública compõe, com participação de 13% (em 2017, de acordo com as TRUs1), a atividade de Administração Pública na desagregação do PIB em 12 atividades, nas Contas Nacionais Trimestrais do IBGE. Em abril, a atividade de saúde pública caiu 22,0%, na comparação interanual, tendo contribuído negativamente (-2,9 p.p.) para a retração de 1,2% registrado na atividade de Administração pública. Os gráficos 11 e 12 no press release mostram a evolução recente da atividade e a contribuição da saúde pública para a atividade de Administração Pública.
Apesar de ter pouca representatividade, em termos de ponderação, a atividade de saúde pública teve grande impacto na retração da Administração Pública devido a expressiva queda no mês.
A saúde privada compõe, na desagregação do PIB em 12 atividades, nas Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, a atividade de Outros Serviços, com 15,1% (em 2017, de acordo com as TRUs) de representatividade nesta atividade. Em abril, a atividade de saúde privada retraiu 13,3%, na comparação interanual, tendo contribuído negativamente (-1,0 p.p.) para a retração da atividade de Outros Serviços. Os Gráficos 13 e 14 no press release mostram a evolução recente da atividade e a contribuição para a atividade de Outros Serviços.
Embora a saúde privada tenha contribuído para a retração de Outros serviços, a forte retração de 22,1% é explicada, principalmente, pelos demais componentes dessa atividade.
Essas quedas de produção da atividade de saúde, tanto pública como privada, estão, provavelmente, associadas ao adiamento de consultas e exames devido ao isolamento social.
É importante destacar que as estimativas realizadas para a saúde pública e privada no Monitor do PIB-FGV não abrangem toda a composição da Conta Satélite de Saúde do Brasil, divulgada pelo IBGE. Além das atividades de saúde pública e privada, a Conta Satélite abrange outras atividades, tais como fabricação de produtos farmacêuticos, comércio de produtos farmacêuticos entre outras atividades relacionadas a saúde.
Outro ponto importante de destacar é que essas estimativas são calculadas com base nos dados disponibilizados no DataSUS, e essas informações, por serem constantemente atualizadas, podem sofrer grandes alterações entre as divulgações.
APÊNDICE – NOTA EXPLICATIVA
O Monitor do PIB-FGV estima mensalmente o PIB brasileiro em volume e em valor. O objetivo de sua criação foi prover a sociedade de um indicador mensal do PIB, tendo como base a mesma metodologia das Contas Nacionais do IBGE. Sua série inicia-se em 2000 e incorpora todas as informações disponíveis das Contas Nacionais (Tabelas de Recursos e Usos, até 2017, último ano de divulgação) bem como as informações das Contas Nacionais Trimestrais, até o último trimestre divulgado (primeiro trimestre de 2020).
O indicador é ajustado as Contas Nacionais Trimestrais sempre que há mudanças metodológicas e a cada trimestre divulgado. Ou seja, nos trimestres calendários, as médias trimestrais dos índices de volume do Monitor do PIB-FGV serão iguais aos indicadores trimestrais, sem ajuste sazonal, das Contas Nacionais Trimestrais. Nos trimestres calendário, são utilizados os mesmos modelos do IBGE para calcular todas as séries desagregadas com ajuste sazonal, tanto pela ótica da oferta, como da demanda. Para o ajuste sazonal mensal é utilizado o modelo mensal do IBC-Br, do Banco Central; para os trimestres móveis utiliza-se uma média desses ajustes mensais.
Assim, as estimativas do Monitor do PIB-FGV antecedem os resultados das Contas Nacionais Trimestrais nos meses em que este é divulgado. E, nos meses em que não há divulgação, o Monitor representa uma excelente antecipação para as tendências do PIB e seus componentes.
O Monitor do PIB-FGV compõe-se de um relatório descrevendo os principais resultados com ilustrações gráficas e de uma tabela Excel com informações de volume, em valores correntes, e a preços de 1995 das 12 atividades econômicas que agrupadas formam os 3 setores de atividade (agropecuária, indústria e serviços). Apresenta, ainda, o Valor Adicionado a preços básicos, os impostos sobre os produtos e o PIB e também os componentes do PIB pela ótica da demanda. Outro ponto a ser destacado é que o Monitor torna disponíveis desagregações que não são divulgadas pelo IBGE, mas que são relevantes para um melhor entendimento da absorção doméstica e da demanda externa. As desagregações disponibilizadas pelo Monitor são:
Consumo das Famílias: bens de consumo duráveis, semiduráveis, não duráveis e serviços. Adicionalmente eles são classificados em nacionais e importados;
Formação Bruta de Capital Fixo: em máquinas e equipamentos, construção e outros. Para máquinas e equipamentos e outros, há a desagregação entre nacionais e importados;
Exportações e Importações: em produtos agropecuários, produtos da extrativa mineral, produtos industrializados de consumo (duráveis, semiduráveis e não duráveis), produtos industrializados de uso intermediário, bens de capitais e serviços.
São divulgadas as séries de base móvel, séries encadeadas, séries encadeadas dessazonalizadas, as taxas mensais, trimestrais e anuais comparadas a igual período do ano anterior e as taxas mensais e trimestrais comparadas a período imediatamente anterior, e os valores nominais correntes e a preços de 1995. Uma metodologia detalhada está disponível clicando aqui.