Monitor do PIB: Retração de 8,7% do PIB no 2º trimestre é a maior queda da história brasileira

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Retração de 8,7% do PIB no 2º trimestre é a maior queda da história brasileira

O Monitor do PIB-FGV aponta retração de 8,7% da atividade econômica no 2º trimestre, em comparação ao 1º do ano, na análise da série dessazonalizada. Na análise mensal, o indicador aponta crescimento de 4,2% em junho, na comparação com maio. Na comparação interanual a economia apresentou queda de 10,5%, no 2º trimestre e de 6,5% em junho.

“O resultado da economia no 2º trimestre foi o pior já vivenciado pelo país desde 1980. É inegável que a pandemia de COVID-19 trouxe enormes desafios para a economia brasileira que ainda devem demorar a serem solucionados. No entanto, na análise desagregada dos meses do 2º trimestre, nota-se que o pior desempenho foi em abril. Embora as taxas interanuais de maio e junho ainda estejam muito negativas, já houve melhora dos resultados nestes meses na comparação dessazonalizada. Estes resultados mostram que, embora a economia esteja no segundo trimestre em situação pior em comparação ao anterior, no curto prazo já se observa uma melhora da atividade.” afirma Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB-FGV.

Os Gráficos 1 e 2 no press release mostram o comportamento da economia de acordo com a evolução da taxa trimestral e mensal, respectivamente. A retração de 8,7% da atividade econômica no 2º trimestre, apontada no Gráfico 1 no press release, é a maior retração já registrada no país, desde 1980. Essa rápida deterioração do PIB foi influenciada por fortes quedas na indústria (-12,8%) e nos serviços (-8,4%) e por praticamente todos os componentes da demanda, à exceção da exportação que cresceu 1,3% no 2º trimestre. No Gráfico 2, é possível observar que, por mais que a economia brasileira tenha sido diretamente atingida pela pandemia de COVID-19 a partir de março, a maior retração observada contra o período imediatamente anterior foi em abril. Nos meses de maio e junho a economia voltou a crescer, embora as taxas interanuais ainda mostrem retrações muito fortes. A economia ainda está em situação muito pior do que a do ano passado, porém a retração interanual de junho (-6,5%) é praticamente a metade da registrada em abril e maio (-12,3% e -12,6%, respectivamente).

ANÁLISE DESAGREGADA DOS COMPONENTES DA DEMANDA

A análise gráfica desagregada dos componentes da demanda foi feita na série trimestral interanual por apresentar menor volatilidade do que as taxas mensais e aquelas ajustadas sazonalmente, permitindo melhor compreensão da trajetória de seus componentes. No entanto, como as medidas de isolamento social em decorrência da pandemia de COVID-19 iniciaram-se em meados do mês de março, tendo significativos impactos na economia, durante o ano de 2020, após a usual apresentação da composição da taxa trimestral é apresentada, também, a desagregação da taxa mensal interanual destes componentes.

Consumo das famílias

O consumo das famílias caiu 11,6% no 2º trimestre, em comparação ao mesmo trimestre no ano anterior. Na análise do consumo de bens, as fortes retrações no consumo de semiduráveis (-51,0%) e de duráveis (-30,2%) são explicadas por quedas em todos os segmentos que compõem estes tipos de consumo. Já o consumo de não duráveis, embora tenha retraído 1,1% no trimestre, apresentou crescimento nos segmentos alimentícios e de artigos farmacêuticos e de perfumaria. O consumo de serviços também apresentou retração em diversos segmentos, embora as quedas no consumo de alojamento e alimentação e de saúde privada tenham sido as maiores contribuições para a queda deste tipo de consumo.

Na análise mensal interanual, nota-se que, além do único tipo de consumo a ter crescido em junho ter sido o de produtos não duráveis (1,2%), os demais tipos de consumo de bens registraram retrações menores neste mês, em comparação ao registrado em abril e maio. Já com relação ao consumo de serviços, nota-se que a maior retração foi em maio (-12,6%) e que em junho, embora a retração tenha sido menor que a do mês anterior (-10,4%), ainda é mais elevada que a observada em abril (-9,0%).

Formação bruta de capital fixo (FBCF)

A FBCF retraiu 20,9% no 2º trimestre, em comparação ao mesmo trimestre de 2019, com registro de queda em todos os componentes. A retração mais expressiva foi a de máquinas e equipamentos (-35,9%), que foi responsável por aproximadamente 70% da redução da FBCF. Embora a retração de máquinas e equipamentos seja resultado de quedas generalizadas do segmento, as retrações observadas nos automóveis, camionetas, caminhões e ônibus foram as principais responsáveis pelo forte recuo do componente.

Na comparação interanual observa-se que embora os três meses do 2º trimestre tenham apresentado taxas interanuais negativas, em todos os componentes da FBCF esses recuos têm diminuído, com abril tendo sido o mês de maior retração e junho o mês com as menores taxas negativas.

Exportação

A exportação de bens e serviços apresentou retração de 0,4% no 2º trimestre, em comparação com o mesmo trimestre de 2019, embora tenham registrado crescimento em alguns ramos de produtos. O principal destaque foram os produtos agropecuários com crescimento de 37,6% no trimestre e contribuição acima de 6 p.p. para o total da exportação. Entretanto, as retrações da exportação de bens de capital (-49,5%), dos serviços (-20,1%) e dos bens intermediários (-10,5%) anularam os efeitos positivos da exportação de produtos da agropecuária.

No Gráfico 8 no press release, nota-se que o volume total exportado de bens e serviços cresceu em junho (9,1%), após dois meses consecutivos de queda. Isto resultou de menores retrações da exportação dos bens de capital, de serviços e de bens intermediários, associadas ao crescimento da exportação dos produtos da extrativa, dos bens de consumo e, principalmente, dos produtos agropecuários.

Importação

A importação retraiu 14,2% no 2º trimestre, comparativamente ao mesmo trimestre de 2019, ilustrado no Gráfico 9 no press release. Embora as quedas na importação de bens intermediários e de consumo tenham contribuído para a retração das importações no trimestre, a forte queda da importação de serviços (-39,3%) foi a principal responsável pela expressiva queda do total das importações. O principal destaque na retração da importação dos serviços deve-se às viagens internacionais.

Conforme apresentado no Gráfico 10 no press release, apenas a importação de bens de consumo e de serviços apresentaram retrações nos três meses do 2º trimestre. O forte crescimento registrado em maio no volume importado de bens de capital foi devido a importação de plataforma. Em junho, o único crescimento dos segmentos da importação foi registrado nos produtos da extrativa mineral.

MONITOR DO PIB-FGV EM VALORES

Em termos monetários, o PIB em valores correntes foi de aproximadamente 3 trilhões, 497 bilhões, 109 milhões de Reais no 1º semestre do ano.

TAXA DE INVESTIMENTO

O Gráfico 11 no press release, destaca em duas linhas as médias das taxas de investimento: a de cima mostra a média das taxas de investimento trimestrais desde o 1º trimestre de 2000 (17,9%); a linha de baixo mostra a média das taxas de investimento trimestrais desde o 1º trimestre de 2015 (15,6%). Observa-se que a taxa de investimento do 2º trimestre de 2020 foi de 15,8%, na série a valores correntes. Apesar de estar acima da taxa de investimentos média de 2015 em diante e de apresentar uma melhora com relação à taxa de investimento do 4º trimestre de 2019 e o 1º deste ano, o atual nível da taxa de investimentos está mais de 2 p.p. abaixo da taxa de investimentos média da economia brasileira desde 2000.

ANÁLISE ESPECIAL DAS ATIVIDADES DE SAÚDE PÚBLICA E PRIVADA

A chegada da pandemia de COVID-19 no Brasil, com a adoção das recomendações de isolamento social, tem impactos diretos e indiretos na economia, afetando, praticamente, todas as atividades econômicas. Nesta seção especial que estará disponível no Monitor do PIB-FGV durante todo o ano de 2020, busca-se compreender como duas das principais atividades econômicas diretamente afetadas pela COVID-19 (saúde pública e privada) têm sido impactadas pelo avanço da pandemia no país. Em conjunto essas duas atividades representavam, de acordo com o IBGE, 4,3% do PIB em 2017, sendo a saúde pública responsável por 2,0 p.p. e a saúde privada pelos outros 2,3 p.p.

Saúde pública

A saúde pública compõe, com participação de 13% (em 2017, de acordo com as TRUs1), a atividade de Administração Pública na desagregação do PIB em 12 atividades, nas Contas Nacionais Trimestrais do IBGE. Em junho, a atividade de saúde pública recuou 19,3%, na comparação interanual, resultando na retração de 23,4% da atividade de saúde pública no 2º trimestre. Este resultado resulta numa contribuição de -3,0 p.p. da saúde pública para a retração de 2,6% da atividade de Administração pública, no 2º trimestre. Os Gráficos 12 e 13 no press release mostram a evolução mensal da atividade de saúde pública e a contribuição trimestral para a atividade de Administração Pública.

Apesar de ter pouca representatividade, em termos de ponderação, o expressivo recuo da atividade de saúde pública foi determinante para a retração da atividade de Administração Pública no 2º trimestre deste ano.

Saúde privada

A saúde privada compõe, na desagregação do PIB em 12 atividades, nas Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, a atividade de Outros Serviços, com 15,1% (em 2017, de acordo com as TRUs) de representatividade nesta atividade. Em junho, a atividade de saúde privada retraiu 28,5%, na comparação interanual, resultando na retração de 35,0% da atividade no 2º trimestre. Este resultado resulta numa contribuição de -5,3 p.p. da saúde privada para a retração de 22,1% de Outros Serviços, no 2º trimestre. Os Gráficos 14 e 15 no press release mostram a evolução mensal da atividade de saúde privada e a contribuição trimestral para a atividade de Outros Serviços.

Embora a saúde privada tenha contribuído para a retração de Outros Serviços, o forte recuo da atividade não é explicado, principalmente, por este componente, conforme apresentado no Gráfico 15 no press release.

Essas quedas de produção da atividade de saúde, tanto pública como privada, estão, provavelmente, associadas ao adiamento de consultas e exames devido ao isolamento social.

É importante destacar que as estimativas realizadas para a saúde pública e privada no Monitor do PIB-FGV não abrangem toda a composição da Conta Satélite de Saúde do Brasil, divulgada pelo IBGE. Além das atividades de saúde pública e privada, a Conta Satélite abrange outras atividades, tais como fabricação de produtos farmacêuticos, comércio de produtos farmacêuticos entre outras atividades relacionadas à saúde.

Outro ponto importante de destacar é que essas estimativas são calculadas com base nos dados disponibilizados no DataSUS, e essas informações, por serem constantemente atualizadas, podem sofrer grandes alterações entre as divulgações.

APÊNDICE – NOTA EXPLICATIVA

O Monitor do PIB-FGV estima mensalmente o PIB brasileiro em volume e em valor. O objetivo de sua criação foi prover a sociedade de um indicador mensal do PIB, tendo como base a mesma metodologia das Contas Nacionais do IBGE. Sua série inicia-se em 2000 e incorpora todas as informações disponíveis das Contas Nacionais (Tabelas de Recursos e Usos, até 2017, último ano de divulgação) bem como as informações das Contas Nacionais Trimestrais, até o último trimestre divulgado (primeiro trimestre de 2020).

O indicador é ajustado as Contas Nacionais Trimestrais sempre que há mudanças metodológicas e a cada trimestre divulgado. Ou seja, nos trimestres calendários, as médias trimestrais dos índices de volume do Monitor do PIB-FGV serão iguais aos indicadores trimestrais, sem ajuste sazonal, das Contas Nacionais Trimestrais. Nos trimestres calendário, são utilizados os mesmos modelos do IBGE para calcular todas as séries desagregadas com ajuste sazonal, tanto pela ótica da oferta, como da demanda. Para o ajuste sazonal mensal é utilizado o modelo mensal do IBC-Br, do Banco Central; para os trimestres móveis utiliza-se uma média desses ajustes mensais.

Assim, as estimativas do Monitor do PIB-FGV antecedem os resultados das Contas Nacionais Trimestrais nos meses em que este é divulgado. E, nos meses em que não há divulgação, o Monitor representa uma excelente antecipação para as tendências do PIB e seus componentes.

O Monitor do PIB-FGV compõe-se de um relatório descrevendo os principais resultados com ilustrações gráficas e de uma tabela Excel com informações de volume, em valores correntes, e a preços de 1995 das 12 atividades econômicas que agrupadas formam os 3 setores de atividade (agropecuária, indústria e serviços). Apresenta, ainda, o Valor Adicionado a preços básicos, os impostos sobre os produtos e o PIB e também os componentes do PIB pela ótica da demanda. Outro ponto a ser destacado é que o Monitor torna disponíveis desagregações que não são divulgadas pelo IBGE, mas que são relevantes para um melhor entendimento da absorção doméstica e da demanda externa. As desagregações disponibilizadas pelo Monitor são:

Consumo das Famílias: bens de consumo duráveis, semiduráveis, não duráveis e serviços. Adicionalmente eles são classificados em nacionais e importados;

Formação Bruta de Capital Fixo: em máquinas e equipamentos, construção e outros. Para máquinas e equipamentos e outros, há a desagregação entre nacionais e importados;

Exportações e Importações: em produtos agropecuários, produtos da extrativa mineral, produtos industrializados de consumo (duráveis, semiduráveis e não duráveis), produtos industrializados de uso intermediário, bens de capitais e serviços.

São divulgadas as séries de base móvel, séries encadeadas, séries encadeadas dessazonalizadas, as taxas mensais, trimestrais e anuais comparadas a igual período do ano anterior e as taxas mensais e trimestrais comparadas a período imediatamente anterior, e os valores nominais correntes e a preços de 1995. Uma metodologia detalhada está disponível no link: https://portalibre.fgv.br/metodologias