Superávit comercial do Brasil em 2022 fica ligeiramente superior ao de 2021

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Em 2022, o valor exportado cresceu 19,1% e o valor importado 24,3%, em relação ao ano de 2021, o que levou a um superávit na balança comercial de US$ 61,8 bilhões, superior ao de 2021 que foi de US$ 61,4 bilhões. O saldo em novembro surpreendeu com a melhora das vendas para a China. Em dezembro, novamente o saldo com a China foi maior do que o registrado no mesmo mês de 2021, passando de US$ 724 milhões para US$ 1,8 bilhões. O resultado foi que o superávit comercial do Brasil em 2022 ficou ligeiramente superior ao de 2021, uma diferença de US$ 400 milhões. O superávit da agropecuária aumentou, o da extrativa reduziu e o déficit da indústria de transformação aumentou. As restrições da oferta agrícola associada à Guerra na Ucrânia e questões climática elevaram os preços agrícolas, pois o aumento no volume exportado foi de 2,6% menor do que o da indústria de transformação. Na extrativa, preços e volume das exportações recuaram com o desempenho do minério de ferro desfavorável. O déficit na indústria de transformação é recorrente na balança comercial do Brasil desde 2009.

Para 2023, as projeções sinalizam para um menor crescimento da economia mundial do que em 2022 e de uma taxa de crescimento do Brasil abaixo de 1%. Exportações menores e importações menores seriam esperadas. Os preços agrícolas não devem acelerar com o fim do efeito das secas e substituição das fontes de grãos da Ucrânia e da Rússia o que significa que a melhora das exportações irá depender mais do volume exportado.

Para as exportações brasileiras agropecuárias a grande incógnita é o efeito China. Com o relaxamento da política de COVID zero é esperado uma retomada parra um crescimento econômico ao redor de 5%. No entanto, ainda estão incertos o efeito dessa política e se poderá ser mantida. A União Europeia, outro mercado importante para s produtos da agro, com a crise energética é um dos principais fatores para o menor crescimento mundial.

O preço do petróleo irá continuar sendo afetado pelas questões geopolíticas e a recuperação das exportações da extrativa depende também da recuperação das vendas de minério de ferro para a China. No caso das manufaturas, a crise da Argentina não favorece o aumento das exportações de maior valor adicionado do setor automotivo.

Uma primeira leitura, o saldo comercial de 2023 deverá ser menor que o de 2022.

Resultados agregados

O crescimento nos valores dos fluxos de comércio foi liderado pela variação dos preços, que aumentou 13,7% para as exportações e 21% para as importações entre 2021 e 2022. O volume exportado cresceu 4,4% e o importado, 2,7% (Gráfico 1 do release).

A participação das commodities no total exportado em 2002 foi igual a de 2021, 68%. Esse grupo registrou aumento de 19,2% em relação a 2021 explicado pela variação de 13,9% dos preços e 4,4% do volume. As não commodities apresentaram resultados similares, variação em valor de 19%, em preços de 13,5% e em volume, 4,7% (Gráfico 2 do release). Logo, tanto as commodities como as não commodities contribuíram para a expansão do valor exportado. Os preços lideraram essa expansão e a variação no volume foi próxima de 5%.

O aumento no preço das exportações de commodities, em 2022, não foi suficiente, porém, para que o índice de preços superasse o pico da série que foi em 2011 no valor de 139,5. Em 2022, o índice foi de 130,2, uma retração de 6,7%, em relação a 2011. Por outro lado, o índice do volume exportado das commodities alcançou o seu pico, em 2022, sendo 2,4% superior ao maior valor antes registrado que foi em 2020, 180,2. A tendência de alta no volume exportado das commodities brasileiras é ilustrada no Gráfico 3 do release.

Nas importações, o grupo das commodities elevou sua participação de 8,5% para 11,7%. Esse aumento se deve principalmente ao comportamento dos preços que cresceram 47,9% entre 2021 e 2022 e, em segundo lugar ao volume, que registrou uma variação de 15,3%. Para as não commodities que são responsáveis pela maior parte das importações, as variações foram menores, 18,3% para os preços e 1,4% no volume (Gráfico 4 do release). A Guerra na Ucrânia, os efeitos climáticos nas lavouras e os gargalos herdados e ainda não totalmente superados da Covid 19 explicam o aumento nos preços das importações que impactou na inflação mundial e do Brasil.

O aumento de preços das importações de commodities foi o maior registrado na série histórica iniciada em 2008. O anterior foi a variação entre 2010 e 2011 de 36,6%. No entanto, o índice de 2022 no valor de 149,1 foi inferior ao do pico da série, 161,1, em 2008, e aos índices registrados entre 2011-2013. O efeito inflacionário do aumento nos preços das commodities importados foi, portanto, o mais elevado na série histórica (Gráfico 5 do release).

O aumento nos preços das importações de commodities e das não commodities levou como já mencionado a uma variação superior no preço das importações em relação aos preços exportados. Assim, após ter aumentado em 14,7% entre 2020 e 2021, os termos de troca recuaram 6,2% entre 2021 e 2022. Em relação ao pico da série que foi em 2011, 121,5, os termos de troca de 2022, 108,7, caíram 10,5% (Gráfico 6 do release)

Os termos de troca na comparação entre 2021 e 2022 não tiveram um efeito positivo sobre a  renda a economia.

Resultados por tipos de indústria

É esperado um recuo no valor adicionado da agropecuária e, portanto, uma contribuição negativa para o crescimento do PIB. Para a balança comercial, porém, a contribuição da agropecuária foi positiva, sendo que o saldo comercial do setor passou de US$ 46,5 bilhões para US$ 65,8 bilhões entre 2021 e 2022. A indústria extrativa registou queda do superávit que passou de US$ 63 bilhões para US$ 45,5 bilhões e na indústria de transformação, o déficit ampliou de US$ 45,3 bilhões para US$ 48,5 bilhões). Logo, o aumento no superávit de 2022 foi explicado pelo desempenho da balança comercial da agropecuária.

A indústria de transformação explicou 55,7% das exportações brasileiras, seguida pela extrativa, 22,8% e a agropecuária, 21,3%. Na comparação anual em valor, a maior taxa de variação no ano foi da agropecuária (37,9%), seguida da transformação (25,2%) e a indústria extrativa registrou queda em 4,7%.

O desempenho positivo da agropecuária é atribuído principalmente aos preços com variação de 34%, enquanto o volume cresceu 2,6%. Na indústria de transformação, a diferença é menor: preços (15,7%) e volume (8%). Na indústria extrativa, as variações foram negativas para o volume e preços. Observa-se que na comparação dos meses de dezembro, a indústria extrativa registrou a maior variação no volume (22,6%) comparada com os outros setores (Gráfico 8 do release). Nesse mês, as exportações de petróleo bruto lideraram as exportações com variação em valor de 62,2% e de volume, 55,5%, sendo a participação no total da pauta de 17,5%.

No ano, a soja foi o principal produto exportado, seguido do petróleo bruto e o minério de ferro. Ressalta-se, porém, que enquanto os dois primeiros registraram aumento no valor exportado, as vendas de minério de ferro recuaram em 35,3% com queda no preço e no volume.

O menor crescimento do volume das exportações de agropecuária em relação ao da transformação e o recuo na indústria extrativa não mudam a tendência observada nos índices de volume por tipo de indústria ao longo do tempo, como ilustrado no Gráfico 9 do release. Na análise dos índices, o setor agropecuário mostra uma trajetória ascendente e com níveis acima da extrativa e da transformação. Em segundo lugar temos a indústria extrativa com trajetória também ascendente, porém mais suave que a agropecuária. Por último com os menores índices, a indústria de transformação com uma tendência à estabilidade no valor dos índices.

A indústria de transformação responde por 86% das importações brasileiras, seguida da extrativa, 11,3% e a agropecuária, 2%. Na comparação anual, destaca-se a variação em valor da extrativa, 79,6%, explicada por um aumento nos preços de 75,1%, pois o volume aumentou 3,8%. Esse resultado está associado às compras de óleos brutos de petróleo que aumentaram em valor, 148,2% com aumento nos preços de 47,5%. Em dezembro, os preços da extrativa recuaram, mas o volume cresceu 21,6%. Novamente, as compras de petróleo tiveram peso nesse resultado, pois cresceram em valor 313%, com uma variação no volume de 259%.

Na comparação entre 2021 e 2022, o aumento de preços da agropecuária e da transformação foram bem menores do que o da extrativa, ficaram abaixo de 20% e o volume recuou para a agropecuária e cresceu 3,2% para a transformação.

O resultado para as importações de bens de capital em volume da agropecuária — aumento de 54,2% — revela que o setor espera um melhor resultado para 2023 em termos de valor adicionado, o que é compatível com as projeções de um aumento de safra em 2023 em relação a 2022. O recuo no volume importado de bem intermediários está associado tanto a menor safra de 2022 como ao aumento dos preços desses bens em 63,7% puxado pelo impacto da Guerra da Ucrânia nos preços de fertilizantes. Os preços de bens intermediários para a indústria de transformação também cresceram, porém a taxas menores e o volume registrou variação positiva. As compras em termos de volume dos bens de capital para a indústria de transformação em comparação com a agropecuária indicam uma expectativa de menor crescimento da demanda e, logo, da expansão da capacidade produtiva (Gráfico 11 do release).

Destacamos a tendência das importações de bens de capital pela indústria e a agropecuária. Como pode ser observado no Gráfico 12 do release, as compras de bens de capital pela agropecuária se expandiram entre 2088 e 2012, quando o índice de volume chega a 215,9 e, depois, entra numa fase de declínio. As compras voltam a crescer a partir de 2016, sendo que desde 2020 a tendência é de uma alta acentuada chegando o índice ao valor de 226,0 em, 2012. 

As compras de bens de capital da indústria crescem entre 2010 e 2013, quando o índice atingiu o valor de 139,1 (Gráfico 13 do release). Depois entra numa trajetória descendente e chegou ao valor mínimo da série em 2017, 79,0. Volta a crescer e em 2022 quando o valor do índice foi de 128,7. Não só os índices da indústria são inferiores ao da agropecuária, além de não ter ainda conseguido ultrapassar o pico da série que foi em 2013.

Resultados por mercados

O superávit com a China recuo em US$ 11,3 bilhões e o déficit com os Estados Unidos aumentou em US$ 5,7 bilhões. Os dois países contribuíram para uma queda de US$ 17 bilhões para o saldo comercial entre 2021 e 2022. Os outros países, regiões ou blocos melhoraram o seu saldo comercial com o Brasil e a diferença dos saldos desse grupo entre 2021 e 2022 foi de um ganho de US$ 19,5 bilhões (Gráfico 14 do release)

A variação no volume exportado entre 2021 e 2022 mostra aumento em todos os mercados, exceto a China com queda de 2,8%. Para o recuo no volume exportado para a China contribuiu a retração nas vendas de minério de ferro em preços e volume, o segundo principal produto de exportação para o país. Em compensação foi registrado aumento de 81% nas exportações de carne bovina, que passou a ocupar o quarto lugar na pauta de exportação do país.

Observa-se que em dezembro, a China liderou o aumento no volume exportado, explicado em parte pelo aumento das vendas de carne que começaram a ocorrer esse ano, após embargos no final de   2022. Para a Argentina, após um primeiro semestre onde se observou crescimento das exportações para o país, o agravamento da crise no país e restrições cambiais afetaram o comércio e na comparação entre os meses de dezembro, a queda foi de 22,1%.

Destaca-se o crescimento das exportações para a União Europeia com uma variação de 15,8% na comparação anual e de 12,8% no mês de dezembro. Óleo bruto de petróleo, farelo de soja e milho que foram beneficiadas com as restrições da oferta associadas à Guerra na Ucrânia.

No caso dos preços, não descrito no gráfico do release, a variação dos preços na comparação anual para as exportações foi de 4,2% para a China e para o restante dos mercados analisados ficou entre 15,4% (Estados Unidos e 19,6% (União Europeia). Preços e volume explicam, portanto, a queda da participação da China de 31,3% para 26,8% entre 2021 e 2022.

No caso do volume importado, apenas China e União Europeia registraram taxas de variação positiva (Gráfico 16 do release). Em relação aos preços de importações para os principais mercados, todas as variações foram positivas entre 2021 e 2022: Estados Unidos (33,1%); União Europeia (19,6%); Argentina (16,9%); e China (13,6%).