Cai o valor previsto para o saldo da balança comercial de 2021

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Cai o valor previsto para o saldo da balança comercial de 2021

Na edição de novembro do ICOMEX, foi chamada a atenção para a desaceleração do valor das exportações comparado aos da importação apontando para a necessidade de revisão da projeção do saldo comercial, algo que só agora foi incorporado nas expectativas do mercado, como é explicado a seguir.

O Relatório Focus do Banco Central entre janeiro e julho de 2021 mostrava uma melhora nas projeções da balança comercial. No final de janeiro, o saldo esperado da balança para 2021 era de US$ 55 bilhões e no final de julho de US$ 70,4 bilhões. Esse último resultado, com pequenas variações, se manteve até o Relatório referente a 26 de novembro. 

Após a divulgação da balança comercial no dia 1 de dezembro pela Secretaria de Comércio Exterior, o Relatório Focus de 3 de dezembro reduziu a projeção do superávit para US$ 60,3 bilhões e no de 10 de dezembro para US$ 59,9 bilhões. O que ocorreu?

A melhora na projeção dos saldos comerciais está associada a dois fatores. Em primeiro lugar, a recuperação do comércio mundial foi melhor do que se antecipava já que, segundo a Organização Mundial do Comércio, o volume deverá crescer 8% em 2021 em comparação a 2020. Em segundo lugar, o aumento dos preços das commodities beneficiou países, que como o Brasil, são exportadores desses produtos.

Os Gráficos 1 e 2 do Press Release mostram a variação nos preços e volumes das exportações e importações do Brasil. O efeito preço supera o efeito volume, nas exportações. Observa-se que a melhora nas projeções da balança comercial coincidiram com as variações interanuais acima de 30% nos preços, a partir de abril até setembro. Para as importações, o efeito volume foi o mais relevante, mas as variações interanuais nos preços se aceleraram a partir de agosto.

Em novembro, a variação nos preços das importações em 34,2% superou a das exportações, que foi de 25,1%. Em termos de volume, as exportações recuaram desde outubro e, na comparação entre os meses de novembro de 2020 e novembro de 2021, a queda foi de 6,2%. O volume importado cresceu, desde março com variações acima de 20% e arrefeceu em novembro, com variação positiva de 8,4%, na comparação interanual.

O desempenho dos índices de comércio explicam o déficit da balança comercial em novembro de US$ 1,3 bilhões, o primeiro na série histórica do mês de novembro, desde 2014, o que deve ter influenciado a revisão da projeção da balança comercial no Relatório Focus. Em termos de valor, as importações cresceram 45,4% e as exportações, 17%, entre os meses de novembro de 2020 e 2021.

No acumulado do ano até novembro, o superávit de 57,1 bilhões, ainda é o maior, quando comparado com iguais períodos, desde 1997. Entre janeiro a novembro de 2020 e de 2021, as exportações aumentaram em valor  34,2% e as importações, 39,1%. O Gráfico 3 do Press Release mostra a variação no acumulado no ano até novembro, onde a principal contribuição para o aumento das exportações são os preços, e para as importações, o volume, embora com uma diferença menor no caso dos preços. No caso das exportações, a diferença entre a variação dos preços e a do volume é de 27,1 pontos percentuais, e nas importações, entre volume e preços, de 11,3 pontos percentuais. 

Os termos de troca mantiveram a sua tendência de queda iniciada em julho de 2021 (Gráfico 4 do Press Release). O índice recuou 6,8% na comparação entre os meses de novembro de 2020 e 2021 e 7,4% entre outubro e novembro de 2021. No entanto, a média de janeiro a novembro de 2021 supera a de 2020 em 15,8%. O comércio exterior contribuiu para o aumento da renda da economia brasileira.

A contribuição das commodities para as exportações brasileiras, no ano de 2021, cresceu ao longo do ano. A participação desses produtos nas exportações totais do Brasil era de 62%, em janeiro de 2021, chegou a 73%, em junho, depois declinou e foi de 60%, em novembro. No acumulado do ano até novembro, os percentuais de 2020 e 2021 são similares. Respectivamente, 67% e 68%. No caso da importações das commodities, o percentual passou de 7,1% para 9,4%, entre 2020 e 2021 (janeiro-novembro).

Ressalta-se o crescimento de 37,8% das exportações de commodities e de 68,1% das importações desse grupo, entre janeiro-novembro de 2020 e 2021. Para as exportações, o aumento nos preços de 39,9% com o recuo de 2,2% no volume explica o resultado e para as importações, o crescimento de 34,2% nos preços e de 23,8% no volume (Gráfico 5 do Press Release). Essa forte elevação nos preços exportados e importados é um dos componentes que tem sido destacados na análise da inflação da economia brasileira.

A análise por tipo de indústria mostra que o volume exportado da agropecuária recuou, na comparação mensal e no acumulado do ano até novembro. (Gráfico 6 do Press Release). No entanto, o aumento nos preços em 35,9% (nov 2020/21) e de 26,6%, na comparação interanual do acumulado do ano até novembro, levou a uma variação positiva no valor exportado de 22%, na base mensal, e de 21% entre jan/novembro de 2020 e 2021.

O volume exportado da indústria extrativa caiu 13,9%, na comparação mensal, e aumentou 1%, na interanual do acumulado do ano até novembro. Os preços cresceram 27,2% (mensal) e 63,8% (comparação do acumulado do ano). Dessa forma, houve um aumento de 9% e 67%, respectivamente, na comparação mensal e do acumulado do ano, em valor. O aumento nos preços de minério de ferro em 75,1% contribuiu para esse resultado, além do aumento nos preços do petróleo. 

A indústria de transformação registrou variação positiva para o acumulado no ano (6,6%) e recuou na comparação mensal. Os preços aumentaram 22,1% (mensal) e 17,4% (acumulado do ano), levando a uma variação de 19% (mensal) e 26% no acumulado do ano, em termos de valor.

Em síntese, todos os índices de volumes recuaram, na comparação mensal, para todas as indústrias e, no acumulado do ano; apenas a agropecuária registrou queda. Em relação aos índices de preços, a maior variação foi da indústria extrativa seguida da agropecuária e da transformação.

Para as importações, todos os índices de volume aumentaram nas duas bases de comparação, com destaque para a indústria extrativa: aumento de 43,6% (mensal) e 40,4% (acumulado do ano). Em termos de preços, foi registrado aumento para todas as indústrias. Novamente, se destaca a indústria extrativa com crescimento de 119% (mensal) e 26,6% (acumulado no ano). Os crescimentos em valor, na comparação interanual do acumulado do ano até novembro, foram de: 32% (agropecuária); 80% (extrativa); e, 36% (transformação). Destaca-se o aumento, em valor, de 215% da indústria extrativa, entre os meses de novembro de 2020 e 2021. Em novembro deste ano, comparativamente a novembro do 2020, a importação de gás natural aumentou 873% e a de carvão, 236%, sendo que a participação na indústria extrativa em novembro de 2021, do primeiro de 49% e a do segundo de 25%.

Os Gráficos 7 e 8 do Press Release mostram a variação do volume exportado e do volume importado por categoria de uso da indústria de transformação, onde não se observam mudanças nas tendências já em curso desde setembro. Nas importações, a liderança fica com a indústria de bens duráveis, seja na comparação mensal ou do acumulado no ano.

As importações de máquinas e equipamentos, assim como de bens intermediários, podem ser entendidas como um indicador de expectativas favoráveis para o crescimento de um setor. Observa-se que, na comparação interanual mensal, as variações nos volumes importados da agropecuária superaram as da indústria de transformação, seja nas compras de máquinas/equipamentos ou na de bens intermediários. Expectativas favoráveis estão presentes também para o setor de agropecuária (Gráfico 9 do Press Release).

A desvalorização cambial pesa mais para a indústria de transformação do que para a agropecuária, dado o diferencial da participação dos bens intermediários nos setores. Nesse contexto, e com os preços internacionais das commodities elevados, o setor da agropecuária é relativamente menos afetado do que a indústria de transformação.

Por último, destacam-se os resultados do comércio bilateral do Brasil com seus principais parceiros, em termos de volume (Gráficos 10 e 11 do Press Release). Os melhores desempenhos, em termos de exportações, foram nos mercados dos Estados Unidos e da América do Sul. No caso dos Estados Unidos, as exportações de produtos semimanufaturados de aço e ferro, óleo bruto de petróleo e aviões contribuíram para o resultado. Na América do Sul, as vendas de automóveis e óleo bruto de petróleo estão entre os produtos a serem ressaltados. A queda do volume exportado para a China foi compensada pelo aumento de preços: 26,3% (mensal) e 41,4% (comparação no acumulado do ano até novembro).

Nas importações, exceto para os Estados Unidos, foi registrada variação positiva no volume importado de todos os mercados, na comparação do acumulado do ano. Na comparação mensal, além dos Estados Unidos, há recuo nas vendas do México. 

Em anexo, as Tabelas 1 e 2 do Press Release mostram as variações no volume exportado e importado, por Setor CNAE, e os indicadores que compõem a base de dados do ICOMEX.

Em janeiro, com a divulgação da balança de dezembro, iremos divulgar um relatório que irá analisar o resultado de 2021 com todos os índices do ICOMEX.