Indicadores de Comércio Exterior | A maior contribuição para o superávit da balança comercial é da China e a maior contribuição para o déficit é dos Estados Unidos

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O volume exportado e o importado aumentaram na comparação do mês de julho de 2021 com julho de 2022. Isso não ocorria desde abril de 2022, no caso das exportações. Por sua vez, para as importações, esta é a terceira e a maior variação positiva na comparação interanual mensal entre 2021 e 2022. No acumulado do ano até julho, o volume exportado aumentou 0,6% e caiu 0,6%, para as importações. Portanto, o aumento em valor nessa mesma base de comparação de 20,1% e de 31, 6% para as exportações e importações, respectivamente, é explicado pelo aumento nos preços, um resultado que se repetiu, mensalmente, ao longo do ano. Até o final do ano esperamos oscilações de aumentos e recuos no volume exportado e o importado.

O saldo da balança comercial foi de US$ 5,4 bilhões em julho, o que representa uma queda de US$ 1,9 bilhões em relação a julho de 2021. No acumulado do ano até julho o superávit foi de US$ 39,9 bilhões, inferior ao de igual período em 2021, que foi de US$ 44,4 bilhões. Com isso, as projeções de mercado para a balança comercial passaram a oscilar entre US$ 58 bilhões e US$ 65 bilhões.

A variação interanual das exportações do mês de julho foi de 17,4% e das importações de 35,2%, em valor. Na base de comparação entre o acumulado do ano até julho de 2021 e 2022, o aumento nas exportações foi de 20,1% e das importações de 31,6%.

O aumento em valor das exportações, em julho, foi liderado pelos preços, que registraram variação positiva de 13,2%, enquanto o volume cresceu 3,2%. Nas importações, a liderança também coube aos preços, aumento de 27,2% e de 6,1% no volume. Ressalta-se o aumento do volume para os dois fluxos de comércio. Para as exportações é o primeiro resultado positivo, desde abril de 2022. Para as importações é a terceira e a maior variação positiva na comparação interanual mensal entre 2021 e 2022.

Com o resultado de julho, a variação no volume exportado, no acumulado do ano até julho, foi de 0,6% e nas importações, um recuo de 0,6%. Os preços exportados cresceram 19,2% e o das importações, 32,1%, nessa mesma base de comparação. No ano até julho, o dinamismo dos fluxos de comércio está associado à trajetória ascendente dos preços.

As exportações de commodities, que, em julho, explicaram 70% do total exportado pelo Brasil, voltaram a crescer em volume na comparação interanual mensal entre 2021 e 2022, o que não ocorria desde março. O aumento foi de 2,3% e no grupo das principais commodities, variações positivas foram registradas para: outros produtos agrícolas (exceto carnes e complexo soja), 25,9%; petróleo e derivados, 16,4%; minério de ferro, 5,4%; e carnes, 2,1%. Na comparação do acumulado do ano até julho, porém, o volume exportado caiu 2,6% com queda do minério de ferro e do grupo de petróleo. O aumento de preços (20,5%), portanto, é o que explica o crescimento em valor (+17,6%) das commodities entre os sete primeiros meses dos anos de 2021 e 2022.

As exportações de não-commodities registraram aumento do volume ao longo do ano até julho. Cresceram em valor 26%, em volume, 7%, e nos preços, 17,4%, na comparação entre os acumulados do ano até julho. O aumento observado no volume total exportado em julho é explicado, portanto, pelo desempenho das commodities. Nos meses anteriores a contribuição negativa na variação do volume desse grupo compensava a contribuição positiva das não-commodities.

As importações brasileiras estão concentradas em não commodities, 92% do total das compras externas do Brasil, no acumulado do ano até julho de 2022. O aumento em valor desse agregado foi de 28,3% (comparação dos acumulados no ano até julho) e de 33,3% entre os meses de julho de 2021 e 2022. As importações das commodities registraram aumento de 68,6%, na comparação do acumulado do ano, e de 51,7%, na mensal. Como mostra o Gráfico 3 do release, esses resultados são explicados pelos aumentos nos preços das commodities (66,7%, mensal, e 66,2%, no acumulado do ano até julho), sendo variações superiores aos dos preços das não commodities. 

Na comparação mensal das importações, o volume importado das commodities recuou 10%, mas, no acumulado do ano, registrou aumento de 1,1%. No caso das não commodities, o volume cresceu entre os meses de julho (7,9%), mas caiu na comparação do acumulado do ano em 0,7%. O desempenho do total importado reflete a trajetória das não-commodities, que explicam, majoritariamente, as compras externas brasileiras. 

Índices de preços e volume por tipo de indústria 

No mês de julho, o valor exportado da agropecuária aumentou em 35,7%, em relação a julho de 2021, o da extrativa caiu 9,8% e o da indústria de transformação aumentou em 25,9%. No acumulado do ano até julho, o mesmo comportamento se repete: agropecuária com variação positiva de 31,6%; indústria extrativa, com queda de 5,9%; e, transformação, aumento de 30,1%. A participação da indústria de transformação foi de 54,3%, seguida pela agropecuária, 23,3%, e da extrativa, 22,4%, nas exportações dos sete primeiros meses de 2022.

A variação positiva em valor para a agropecuária é explicada pelos preços, seja na comparação mensal (41,5%) ou no acumulado do ano até julho (39,8%), pois a variação no volume foi negativa — mensal, 3,2%, e no acumulado, 4,9%. A soja explica 75% das exportações do setor e registrou queda de volume; o segundo principal produto, café não torrado, com participação de 10,4%, repete o mesmo resultado. Observa-se que nos dois casos, o aumento dos preços levou a uma variação positiva no valor. O terceiro produto foi o milho, com variação positiva de volume (84%) e de preços (38%), o que resultou em um aumento de 154% no valor entre os acumulados do ano até julho de 2021 e 2022. 

Para a indústria extrativa, a variação no volume recuou na comparação do acumulado do ano, mas foi positiva na mensal. Os preços recuam na comparação mensal, mas registram variação positiva no acumulado do ano. Observa-se que desde março, o volume recua na comparação interanual mensal. Dois produtos, petróleo bruto e minério de ferro, explicaram, respectivamente, 52,2% e 43,0% das vendas totais do setor, em julho. Nesse caso, foi a variação em 20% do volume exportado de petróleo que levou ao aumento do volume de vendas do setor, pois a variação no minério de ferro foi de 1%.

Na indústria de transformação, todos os índices registraram variação positiva, sendo que o resultado em volume supera o dos preços. Observa-se que 46,6% das exportações do setor são classificadas como commodities e cresceram 34% na comparação dos acumulados do ano até julho, e as não-commodities aumentaram 27%. O principal produto de exportação foi o óleo combustível, seguido de carne bovina, farelo de soja, carne de aves e açúcares e melaços.

No mês de julho, o valor das importações da agropecuária aumentou em 3,2%, em relação a julho 2021, o da extrativa 90% e o da indústria de transformação, 31,4%. No acumulado do ano até julho, o mesmo comportamento se repete: agropecuária teve variação positiva de 11,3%; indústria extrativa, de 148,4%; e, transformação, de 24,3%. As participações nas importações totais no primeiro semestre de 2022 foram: 2,1%, agropecuária, 12,7%, extrativa, e, 85,2%, transformação. 

A variação positiva em valor para a agropecuária é explicada pelos preços, seja na comparação mensal (19,1%) ou no acumulado do ano até julho (17,7%). A variação no volume foi negativa no acumulado do ano (5,8%) e na comparação mensal (13,3%). Para a indústria extrativa, todos os índices registraram aumento, exceto a variação mensal do volume. Observaram-se aumentos acima de 100% para os preços do setor. Os três principais produtos que explicaram 93% das importações, no acumulado do ano, são do setor de energia: petróleo; carvão; e, gás natural.

Na indústria de transformação, as variações são todas positivas, exceto na comparação do volume no acumulado do ano, com queda de 0,9%. O principal produto importado foi adubo/fertilizantes com variações positivas em valor, de 175%, preços, 138%, e volume, 15,5%.

A análise por categoria de uso mostra que, no mês de julho, o setor agropecuário liderou o volume de compras de bens intermediários (11,6%) e de bens de capital (54,2%). Como analisado em edições anteriores do ICOMEX, receios de desabastecimento no setor de adubos e fertilizantes e perspectivas de preços das commodities favoráveis influenciaram esses resultados. A indústria registrou aumentos nas compras de bens intermediários (8,0%), a primeira variação positiva no ano desde janeiro, e nas de bens de capital (23,8%). No entanto, na comparação interanual do acumulado do ano até julho, as importações de bens intermediários pela indústria recuaram 0,1% e de bens de capital aumentaram em 5,4%. 

Como mostra o Gráfico 6 do release, as variações positivas mais elevadas, em termo de volume, da agropecuária nas compras de bens intermediários e de bens de capital, em relação à indústria, indicam um desempenho mais favorável do nível de atividade desse setor. 

O comércio com os principais parceiros

O Gráfico 7 do release mostra o volume exportado e importado do Brasil com seus principais parceiros. No acumulado do ano até julho, as exportações aumentam para todos os mercados, exceto China, com queda de 12,8%. O maior crescimento foi registrado para América do Sul (exceto Argentina), em 14,3%, seguido da Argentina (13,9%), União Europeia (11,9%) e Estados Unidos (3,0%). O crescimento para a Ásia sem a China foi nulo. As importações caem nos mercados dos Estados Unidos, Argentina e América do Sul (exceto Argentina) e aumentam para a China (7,8%), a União Europeia (1,8%) e Ásia (Exclusive China e Oriente Médio) (30,5%). 

Na edição de julho do ICOMEX, ressaltamos o caso da China e da Argentina. No caso da China, foi observada uma desaceleração na queda do volume em junho, o que continuou em julho. Ao mesmo tempo, porém, o aumento do preço também desacelerou. O resultado foi um recuo de 4,2%, em valor, nas exportações para a China, na comparação interanual mensal de julho, e de 0,2%, na comparação do acumulado do ano até julho. Isso poderá levar a uma queda nas exportações para a China entre o ano de 2021 e 2022. Um fato inédito, se consideramos a série iniciada em 2001, quando a China expande a sua presença no comércio internacional e para o Brasil. 

No caso da Argentina, o dado de julho mostra um aumento de 39,1% das exportações brasileiras para esse país. Conforme já ressaltamos antes, o efeito de redução das exportações não pode ser descartado, a medida que o crescimento econômico for revertido, em função de possíveis medidas associadas à contenção da inflação e/ou pela crise cambial do país.  

A desaceleração das exportações para a China não a deslocaram da posição de principal contribuidora para o superávit da balança comercial do Brasil. O crescimento das exportações para a Argentina junto com outros mercados sulamericanos, em especial o Chile, levou a que a região seja a segunda maior contribuidora para o saldo positivo da balança comercial, conforme mostra o Gráfico 9 do release. 

Na Oceania, o saldo deficitário é explicado principalmente pelo comércio com a Austrália, com a qual o Brasil acumulou um saldo comercial negativo de US$ 1,4 bilhões. O país responde por 98% das importações brasileiras dessa região, sendo 85% de carvão. Na União Econômica Euroasiática (Rússia, Cazaquistão, Bielorrússia, Armênia e Quirguistão), a Rússia é o principal parceiro do Brasil, com 92% das importações do bloco, sendo 76% de adubos e fertilizantes. O maior déficit é com a América do Norte e, nesse caso, o resultado reflete o comércio com os Estados Unidos.

Por último, o Gráfico 10 do release mostra os cinco maiores superávits e déficit bilaterais do Brasil, no acumulado de janeiro a julho de 2022. Entre os países da América do Sul, o maior superávit é com o Chile, pois com a Argentina o valor foi de US$ 1,7 bilhões, nesse período. Com a Holanda, o resultado é explicado pela entrada das commodities para a União Europeia pelo porto de Roterdã. Observa-se que os 2 principais mercados de exportações e de origem das importações brasileiras registram resultados opostos em termos de saldos comerciais. 

Não vislumbramos a perda de posição da China nos próximos anos, a não ser que uma recessão profunda afete o país. O saldo com a América do Sul pode ser reduzido, no curto prazo, o que irá depender da economia Argentina, que explica 36% das exportações e 43% das importações da região no comércio com o Brasil.