Os termos de troca seguem declinando, mas desaceleram as variações nos preços das exportações

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Na comparação interanual do mês de agosto entre 2021 e 2022, foram registradas as menores variações nos preços exportados (5,7%) e nos preços de importações (17%), o que sugere uma tendência de desaceleração dos preços no comércio mundial. Dada a diferença de variação nos preços de exportações e importações, os termos de troca seguem a sua trajetória de queda. O volume exportado da agropecuária registrou a primeira variação positiva, desde fevereiro do corrente ano, na comparação interanual mensal. A principal contribuição para esse resultado foram as vendas de milho, impulsionadas pela redução da oferta de grãos associada à Guerra da Ucrânia. No ano de 2023, as exportações totais brasileiras deverão enfrentar um cenário mais desfavorável do que o de 2022. Ademais, diferente de outros momentos de tendência recessiva mundial, provavelmente a China não exercerá um papel anticíclico potente para dinamizar as exportações brasileiras.

O saldo da balança comercial acumulado até agosto foi de US$ 43,9 bilhões, valor inferior ao de igual período de 2021, US$ 52 bilhões. O menor superávit de 2022 é explicado pela menor variação em valor das exportações, em comparação com o resultado de 2021. Entre janeiro/agosto de 2020 e 2021, as exportações cresceram 37,4% e as importações, 34,4%. Em 2022, a variação do acumulado do ano até agosto em relação ao mesmo período de 2021, foi de 19,1% para as exportações e 32,3% para as importações.

Na comparação interanual do mês de agosto entre 2021 e 2022, as exportações cresceram em valor 13,1% com aumento no volume de 6,6% e nos preços de 5,7%.  Ao longo do ano, porém, a variação dos preços superou a do volume e na comparação do acumulado do ano até agosto, os preços subiram 17,4% e o volume, 1,3%. O aumento das importações, na base mensal, foi de 36,4%, com variação positiva de 17% nos preços e 16,4% no volume. Diminuiu, portanto, a diferença entre a variação nos preços e no volume observada nos meses anteriores, mas na comparação do acumulado do ano, o volume cresceu 3% e os preços, 28,1%. O ritmo de crescimento dos preços exportados e, em menor grau, dos importados, estaria, portanto, desacelerando (Gráfico 1 do release).
 
O menor crescimento nos preços exportados está associado ao desempenho das commodities, que explicaram 67% das exportações brasileiras, em agosto, e 68%, no período de janeiro a agosto. Como ilustrado no Gráfico 2 do release, os preços das commodities aumentaram 3% e os das não commodities, 12,7%, na comparação do mês de agosto. No entanto, no ano, a variação nos preços das commodities e das commodities é similar, 18% e 17%, respectivamente. No caso do volume, as não commodities registraram variações que são superiores às das commodities, seja na comparação mensal ou no acumulado do ano até agosto. Ressalta-se a comparação do acumulado do ano, com o registro de recuo no volume exportado das commodities (-1,8%) e avanço das não commodities (+7,4%).

Nas importações, a variação nos preços das commodities foi de 51,4%, na comparação mensal, e de 63,4%, no acumulado do ano. Observa-se que embora essas importações representem cerca de 10% das importações totais brasileiras, os elevados percentuais contribuíram para que o aumento nos preços importados superasse os das exportações ao longo desse ano. No Gráfico 3 do release, chama a atenção o aumento no volume importado das commodities (10,6%) e das não commodities (16,9%), em agosto, apesar de que no acumulado do ano a variação seja de apenas um dígito nos dois casos. O aumento em agosto pode ser um indicador do maior nível de atividade observado nos últimos meses.
 
O crescimento dos preços importados acima dos exportados, a partir de meados de 2021, levou a uma queda nos termos de troca, apesar da elevação nos preços das commodities, como mostra o Gráfico 4 do release. Entre junho de 2021, o maior nível dos termos de troca desde janeiro de 2015, e agosto de 2022, os termos de troca recuaram 13,4%. É um resultado distinto de outros momentos em que os preços das commodities estavam crescendo e os termos de troca melhoraram. Contribuiu para esse resultado, a queda nos preços do minério de ferro, um dos 3 principais produtos de exportação do país e o aumento nos preços de insumos, como fertilizantes. No caso do petróleo, os índices calculados pelo FGV/ICOMEX mostram um aumento de 57% nos preços exportados e de 75%, nos preços importados, o que representa uma contribuição adicional para a queda nos termos de troca (Gráfico 5 do release). 

Índices de preços e volume por tipo de indústria

Na comparação interanual do mês de agosto entre 2021 e 2022, a variação no valor exportado da agropecuária foi de 43,7%, da extrativa recuou 27,1% e da indústria de transformação aumentou em 30%. No acumulado do ano até agosto, o mesmo comportamento se repete: agropecuária com variação positiva de 33%; indústria extrativa, com queda de 9,5%; e, transformação, com aumento de 30%. A participação da indústria de transformação foi de 54,6%, seguida pela agropecuária, 23,1%, e da extrativa, 22,4%, nas exportações dos oito primeiros meses de 2022. 
No mês de agosto, a variação positiva em valor para a agropecuária é explicada pelo aumento nos preços (35,7%) e no volume (7%). Dois produtos explicaram 86% das exportações do setor: soja (56%) e milho (30%). Os dois registraram aumento de preços, na comparação mensal: soja (28,5%) e milho (42,2%). Contudo, a variação em quilogramas foi positiva para o milho (72%) e negativa para a soja (-6%). Logo, a variação positiva no volume exportado da agropecuária, o que não ocorria desde fevereiro do corrente ano, se deveu às vendas de milho no comércio mundial, beneficiadas pela redução da oferta de grãos associada à Guerra da Ucrânia. Na comparação do acumulado do ano até agosto, o volume recua (3,4%) e os preços sobem (39%).

Para a indústria extrativa, todos os índices registraram queda na comparação mensal. Dois produtos explicaram 93% das exportações do setor: petróleo bruto (55%) e minério de ferro (38%). Os dois apresentaram recuo no volume exportado: petróleo (10%) e minério (3,5%). No entanto, foi a queda de 53% no preço médio do minério de ferro, segundo os cálculos da Secretaria de Comércio Exterior, que puxou a variação negativa de 27,1%, em valor, do setor, em agosto, pois os preços do petróleo aumentaram em 28,6%. Na comparação do acumulado do ano até agosto, o volume recua em 8,7% e os preços em 0,7%.

Todos os índices de preços e volume registraram variação positiva na indústria de transformação. Em agosto, a variação no volume (14,7%) superou a dos preços (13%), mas, no ano, foi a variação do preço (19,5%) que superou a do volume (8,5%). Ressalta-se que 46% das exportações da indústria são commodities.  No acumulado do ano até agosto, o volume exportado das commodities aumentou em 8,6% e das não commodities, em 8,3%. Para as variações de preços, os resultados foram: commodities (+22,9%) e não commodities (16,9%) – Gráfico 6 do release.

Observa-se que a pauta de exportações da indústria de transformação é mais diversificada que a da agropecuária e da extrativa. Os dez principais produtos explicaram 47% do total exportado pela transformação, em agosto. O principal foi a carne bovina, com percentual de 7,3%,, seguida de açúcar (7,1%), farelo de soja (5,9%), óleo combustível (5,8%), carne de aves (4,9%), celulose (4,1%), ferro-gusa (3,5%), automóveis de passageiros (3,2%), semiacabados de ferro e aço (2,6%) e ouro não monetário (2,5%). Todos os produtos são classificados como commodities, exceto os automóveis. Esse registrou a maior variação em valor no grupo dos dez principais produtos (110%). Portanto, a indústria concentra entre os seus principais produtos de exportações, as commodities. Ao mesmo tempo, produtos de maior valor adicionado, como os automóveis, estão  apresentando resultados favoráveis esse ano. No acumulado do ano até agosto, os automóveis estão entre os dez principais produtos exportados, com variação de 14,7%. O principal produto no acumulado do ano até agosto foi o óleo combustível, com variação, em relação a igual período do ano anterior, de 69%. 

A variação em valor nas importações foi positiva tanto na comparação mensal, como no acumulado do ano até agosto, em todos os setores. Como nos meses anteriores no corrente ano, a indústria extrativa lidera o percentual da maior variação: 65%, na comparação entre os meses de agosto de 2021 e 2022, e 134,4%, entre o acumulado do ano até agosto desses anos. No mês, o aumento de preços do setor em 104,5% foi, em parte, compensado pelo recuo de 19,9% no volume importado. No acumulado do ano até agosto, porém, tanto os preços cresceram (113,2%) como o volume também (12%).

As importações agropecuárias aumentaram em preços (20,4%) e volume (12,5%), na comparação mensal interanual de agosto, levando a uma variação no valor de 35%. No acumulado do ano até agosto, o preço subiu, mas o volume recuou, como mostra o Gráfico 7 do release, e a variação em valor nessa base de comparação foi de 14,2%. As importações da indústria de transformação aumentaram em preço e volume nas duas bases de comparação apresentadas no gráfico do release. Em agosto, a variação no volume foi de 21,5%, superando a dos preços (10,6%). No acumulado do ano até agosto, a variação nos preços (22,9%) superou a do volume (2,2%). A variação, em valor, do setor, foi de 35%, na base mensal, e de 25,8%, entre o acumulado do ano até agosto de 2021 e 2022.

No mês de agosto, foi registrada a maior variação mensal interanual do volume importado, desde janeiro de 2022, um percentual de 16,4%, como já mencionado. A análise por setores mostrou que o resultado se deve à variação positiva das compras do setor de agropecuária e da indústria de transformação, pois o volume importado pela extrativa recuou, no mês de agosto 2021/2022. O Gráfico 8 do release mostra que, para a indústria, aumentaram as importações em volume dos bens de capital (48,2%) e dos bens intermediários (16%). Para a agropecuária, o volume importado de bens de capital cresceu 62,4% e dos bens intermediários caiu 20%. 

Observa-se que as importações de bens intermediários pela agropecuária registraram variações positivas, na comparação interanual mensal entre 2021 e 2022, desde abril (52,6%), maio (54,6%), junho (15,7%) e julho (12,2%). A queda, em agosto, pode refletir uma acomodação nos estoques aos níveis desejados ou restrições de oferta no mercado mundial. No caso da indústria, os resultados refletem uma melhora no nível de atividade do setor e expectativas mais favoráveis de crescimento para esse ano, em comparação com o cenário dos primeiros meses do ano.

No acumulado do ano até agosto, a variação no volume importado de bens de capital pela agropecuária supera o da indústria, assim como a dos bens intermediários pela agropecuária.

O comércio com os principais parceiros

A geração dos saldos superavitários da balança comercial continua a depender do mercado asiático e, em especial, da China. Do saldo de US$ 34,2 bilhões com a Ásia, a China contribui com US$ 23,3 bilhões, no acumulado do ano até agosto de 2022 (Gráfico 9 e 10 do release). O restante, de US$ 10,9 bilhões, com os demais países asiáticos, é superior ao saldo com a América do Sul (US$ 9,7 bilhões) e com a União Europeia (US$ 5,2 bilhões). Os Estados Unidos, que são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, explicam o déficit com a América do Norte. O saldo com os Estados Unidos foi negativo em US$ 10,5 bilhões e com o restante dos países da região foi positivo em US$ 1,1 bilhões. O segundo maior déficit por regiões/blocos foi com a União Econômica Euroasiática (Rússia, Bielorrússia, Cazaquistão, Armênia e Quirguistão), onde a Rússia contribui com um déficit de US$ 4,6 bilhões, o segundo maior déficit bilateral do Brasil, após os Estados Unidos.

Os contenciosos entre os Estados Unidos e a China continuaram com o governo Biden e se intensificaram com a Guerra da Ucrânia. Para o comércio exterior dos Estados Unidos, foi identificado redirecionamento das importações chinesas de produtos de energia (gás natural, petróleo e carvão) dos Estados Unidos para a Rússia (Bown, 2022). Nesse caso, a pergunta seria se isso afeta as exportações brasileiras de petróleo para a China, que é o nosso principal mercado. Observa-se que as exportações brasileiras totais de petróleo cresceram 33%, entre os acumulados do ano até agosto de 2021 e 2022, e a participação no total da pauta aumentou de 10,7% para 11,9%. Para a China, a participação do produto na pauta de exportações brasileiras para esse país caiu de 49,2% para 37,7% e o aumento foi de 2%, na comparação interanual do acumulado até agosto de 2021 e 2022. O que sugere a possibilidade de algum desvio, mas é preciso analisar os índices de volume que serão construídos pela base de dados FGV/ICOMEX e apresentados na próxima edição. 

Por outro lado, o aumento em 145% das vendas de milho do Brasil no comércio mundial é visto como um efeito positivo da retração da oferta de grãos e dos problemas de logística na Ucrânia e Rússia. Os contenciosos geopolíticos influenciam a direção dos fluxos de comércio e, nesse cenário, a melhor posição do Brasil é manter, se possível, uma postura de neutralidade. Independentes de efeitos positivos ou negativos, contudo, os contenciosos geram incertezas e tornam os operadores de comércio exterior mais cautelosos. 

Além dessas questões, o cenário macroeconômico é desfavorável. Juros altos nos Estados Unidos e União Europeia, a crise da energia que afeta a Europa, a desaceleração do crescimento da China e gargalos ainda existentes nas cadeias de suprimentos apontam para o menor crescimento do comércio mundial. 

O Gráfico 11 do release mostra a variação no volume exportado e importado por principais mercados, entre o acumulado do ano até agosto de 2021 e 2022. No caso da China, como mostra o Gráfico 12 do release, além da retração no volume exportado, é observada uma desaceleração nos preços e, em agosto, foi registrada a primeira variação negativa na comparação interanual mensal, desde dezembro de 2020. Mesmo supondo que a China recupere o seu crescimento planejado de 5,5% para 2023, é pouco provável que desempenhe o papel anticíclico que teve na crise de 2008 e no início da pandemia e que foi crucial para manter a expansão das exportações brasileiras.

Por último, o aumento em volume exportado para a Argentina e demais países da América do Sul não deverá se repetir em 2023. A Argentina já iniciou medidas de contenção dos gastos de divisas com importações e questões políticas afetam as perspectivas para o Chile, nosso sexto principal mercado de exportações, e o Peru.

No ano de 2023, em princípio, as exportações deverão registrar alguma desaceleração no seu crescimento.