
No mês em que as atenções se voltam para as decisões no campo monetário, o Boletim Macro do FGV IBRE traz uma análise da atividade econômica brasileira decomposta exatamente a partir de sua sensibilidade aos juros. Os pesquisadores apontam que foi o segmento mais resistente à Selic que justificou, por exemplo, o surpreendente desempenho do PIB no primeiro trimestre do ano mesmo sob uma uma política monetária contracionista - que do último trimestre de 2021 até hoje opera com juros reais 6% acima do juro neutro, na média, como aponta José Júlio Senna. Por ser uma atividade pouco sensível ao efeito dos juros altos - tal como a indústria extrativa e a administração pública, que conformam o chamado PIB exógeno -, o agronegócio não sofreu restrições e aproveitou o potencial dado pela supersafra.
Os pesquisadores do IBRE calculam que esse grupo do PIB exógeno respondeu por 1,7 ponto percentual (p.p.) do crescimento de 1,9% registrado no trimestre em relação ao trimestre anterior, restando apenas 0,2 p.p. às atividades do chamado PIB cíclico, que responde ao aperto da Selic. E que, por sua vez, também tiveram a contribuição do impulso do agro, em atividades como serviços de transporte e armazenagem. O PIB cíclico, que representa em torno de 65% do valor adicionado na economia, aponta o Boletim, “tem permanecido próximo da estagnação desde o terceiro trimestre do ano passado, após expressivo crescimento no primeiro semestre de 2022”. Pelo lado da demanda, destaca-se o baixo desempenho do consumo das famílias e a contração do investimento.